A situação mundial, quanto ao abastecimento alimentar, avizinha-se de um ponto, que alguns, qualificam de quase, ou mesmo rotura. As razões para isso são diversas mas concorrem todas para a situação de uma procura que tende a exceder a oferta, que aliás, ainda por cima, parece fraquejar - noticia-se que a produção de trigo nos EUA pode descer para valores que se verificavam na década de 50 do século XX. O aumento da procura de determinados produtos alimentares - carne, produtos lácteos, óleo de palma, etc. - pelas novas (e cada vez maiores) classes médias na China, Índia,...(ver aqui); o desvio da produção de produções alimentares para a produção de biocombustíveis (1/5 da produção do milho, nos EUA, em 2007), são as principais determinantes desta evolução.
Os preços das matérias primas alimentares aumentaram (brutalmente) em 2007, o que veio a traduzir-se em aumentos significativos para os consumidores - ver os números nos artigos indicados abaixo . Os preços relativos das matérias primas alimentares alteram-se, originando desvios de produção significativos. Existe já escassez de determinados bens alimentares nalguns países. As florestas tropicais sofrem de uma desflorestação acelerada. O preço do petróleo subiu o que não ajuda...
Estaremos a passar só por um período de ajustamento, com a situação a estabilizar-se a médio prazo, logo que o sistema produtivo reaja ao perfil desta nova e sustentada procura (ou se perceba que não tem sentido produzir biocombustível a partir de dadas produções agrícolas - parece ser o caso, na Europa)? Não seria a primeira vez, que os neo-malthusianos veriam infirmadas as suas previsões - não se pode arredar essa possibilidade, mas, também não se pode deixar de entrar em linha de conta, com o que nos dizem algumas extrapolações: em 2050, haverão cerca de 10 mil milhões de pessoas, pelo que o rácio de pessoas por hectar, será de 6, quando em 1950, era de 2. A produtividade agrícola terá de subir (quanto?) e, isso, num contexto, onde a procura per capita também aumentará (quanto?); onde os preços de dados inputs foram por aí acima (em quanto? - a extracção de petróleo terá ultrapassado o seu pico) e com as alterações climáticas a exercer a sua influência disruptiva sobre todo o quadro de produção alimentar.
Como The Economist - que concordou com Fidel de Castro quanto à crítica dos EUA produzir biocombustível a partir do milho - dizia, já lá vão alguns anos, no século XXI, ser complacente, será o maior pecado, e, sublinho eu, ser "complacente desdenhoso" (ver George Monbiot no livro referido aqui), a maior imbecilidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário