A fascinante tese do ensino da
ignorânciaEm Dezembro, o estudo da OCDE afirmava: os
alunos portugueses de 15 anos estão abaixo da média entre 57 países a Ciências,
Matemática e Leitura. Este facto gerou mais um conceito “eduquês” de um
secretário de Estado que disse à TV qualquer coisa do tipo “Os alunos são
ignorantes porque [não] são reprovados” já que os resultados se devem em
larga medida às elevadas taxas de retenção. Tão irresponsável doutrina dá
crédito a uma curiosa tese da qual se pincelam os traços principais abaixo.Humanidade supra-numerária
A correspondência entre “progresso da ignorância” e
declínio da inteligência crítica é evidente, como o é a necessidade de
competência linguística elementar para o exercício do juízo crítico. Isto
assente, porque se aprofunda e tolera a iliteracia que o quotidiano e estudos
demonstram?Michéa atribui-a à implantação da Escola do Poder Transnacional
assente em reformas perversamente justificadas pela “democratização do ensino” e
“adaptação ao mundo moderno”. Ilustra a teoria com reunião de “quinhentos homens
políticos, líderes económicos e científicos de primeiro plano”, em S. Francisco,
que concluiu que “no século XXI, dois décimos da população activa serão
suficientes para manter a actividade da economia mundial”, pondo a questão: como
manter a governabilidade dos oitenta por cento da humanidade supra-numerária? A
solução mais razoável lá defendida é do conhecido Z. Brzezinsky: “criando
‘cocktail’ de diversão embrutecedora e alimentação suficiente que permita manter
o humor dessa população”. Este cínico objectivo implicaria reconfigurar o
sistema educativo do modo que se passa a sintetizar e se vem assistindo.Excelência para poucos
Primeiro, há que manter um selectivo sector de excelência que forme as elites científicas
e de gestão, enformado pelo modelo da escola clássica, criador de espírito
crítico. No escalão seguinte, ensinam-se competências técnicas com semi-vida
estimada de dez anos e ligadas a tecnologias efémeras. Competências descartáveis
quando as tecnologias são superadas e cuja aprendizagem não exige autonomia, nem
criatividade e, no limite, pode ser feita em casa, frente ao computador.
Ajustada ao ensino multimédia à distância proporciona negócio às grandes firmas
e torna dispensáveis milhares de professores, sonho economicista e político dos
meios do poder.Ignorância para muitos
Resta o escalão dos supra-numerários (com
emprego precário e flexível) que, “jamais constituirão um mercado rentável” e a
quem “a transmissão de saberes críticos e mesmo de comportamento cívicos e o
encorajamento à rectidão e à honestidade” é indesejável. A esses se destina a
escola dos grandes números, a escola que deve ensinar a ignorância coerente com
Brzezinsky. É a escola que produz ignorantes diplomados, incapazes de
compreender um texto, ou serem proficientes em matemática. O ensino da
ignorância é objectivo ao qual os professores tradicionais, apesar de excepções,
se ajustam mal o que implica a sua reeducação por neo-especialistas em ciências
da educação. Estes peritos têm por missão impor condições de “dissolução da
lógica” no Ensino, real revolução cultural porque, até recentemente, “toda a
gente pensava com um mínimo de lógica, com a notável excepção dos cretinos e dos
militantes” . Os professores tornar-se-ão animadores de actividades transversais
e assistentes psicológicos. A escola será um espaço acrítico, um local de
animação (Thanksgiving, Halloween…) confiada a associações de pais, aberto a
todas as mercadorias tecnológicas ou culturais. Fascinante e preocupante!
Difícil acreditar que haja esta estratégia capitalista específica, mas as mesmas
consequências resultam de políticas incompetentes e do deslumbramento
estrangeirado que assolam o país. É imperativo de cidadania reverter decisões e
políticas que alicerçam um Ensino da Ignorância que converta 80% dos portugueses
em supra numerários embrutecidos de uma UE, ela própria, ameaçada pelo mesmo
mal
agora, sobre as atribulações de um independente de esquerda nestes tempos da III República ...
14 de janeiro de 2008
O futuro da educação?
É um artigo do Diário Económico, de Manuel Gonçalves da Silva, professor da UNL A fascinante tese do ensino da ignorância - DiarioEconomico.com. É um artigo pesado, que mereceria qualificações, comprovações (e.g., sobre a interpretação dada ao que foi dito, na tal reunião, em S.Franciso) mas que tem a virtude, na sua frontalidade, no seu radicalismo, de - apontando para cenários limite - obrigar a situar-nos e a reflectir: não sendo estes os resultados que queremos, é para aí, no entanto, que se tende, pelo menos, em parte? (Não percebo o que se diz no primeiro parágrafo, a não ser inserindo-lhe o advérbio "não" - a bold).
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