14 de janeiro de 2008

O futuro da educação?

É um artigo do Diário Económico, de Manuel Gonçalves da Silva, professor da UNL A fascinante tese do ensino da ignorância - DiarioEconomico.com. É um artigo pesado, que mereceria qualificações, comprovações (e.g., sobre a interpretação dada ao que foi dito, na tal reunião, em S.Franciso) mas que tem a virtude, na sua frontalidade, no seu radicalismo, de - apontando para cenários limite - obrigar a situar-nos e a reflectir: não sendo estes os resultados que queremos, é para aí, no entanto, que se tende, pelo menos, em parte? (Não percebo o que se diz no primeiro parágrafo, a não ser inserindo-lhe o advérbio "não" - a bold).

A fascinante tese do ensino da
ignorância

Em Dezembro, o estudo da OCDE afirmava: os
alunos portugueses de 15 anos estão abaixo da média entre 57 países a Ciências,
Matemática e Leitura. Este facto gerou mais um conceito “eduquês” de um
secretário de Estado que disse à TV qualquer coisa do tipo “Os alunos são
ignorantes porque [não] são reprovados” já que os resultados se devem em
larga medida às elevadas taxas de retenção. Tão irresponsável doutrina dá
crédito a uma curiosa tese da qual se pincelam os traços principais abaixo.

Humanidade supra-numerária

A correspondência entre “progresso da ignorância” e
declínio da inteligência crítica é evidente, como o é a necessidade de
competência linguística elementar para o exercício do juízo crítico. Isto
assente, porque se aprofunda e tolera a iliteracia que o quotidiano e estudos
demonstram?Michéa atribui-a à implantação da Escola do Poder Transnacional
assente em reformas perversamente justificadas pela “democratização do ensino” e
“adaptação ao mundo moderno”. Ilustra a teoria com reunião de “quinhentos homens
políticos, líderes económicos e científicos de primeiro plano”, em S. Francisco,
que concluiu que “no século XXI, dois décimos da população activa serão
suficientes para manter a actividade da economia mundial”, pondo a questão: como
manter a governabilidade dos oitenta por cento da humanidade supra-numerária? A
solução mais razoável lá defendida é do conhecido Z. Brzezinsky: “criando
‘cocktail’ de diversão embrutecedora e alimentação suficiente que permita manter
o humor dessa população”. Este cínico objectivo implicaria reconfigurar o
sistema educativo do modo que se passa a sintetizar e se vem assistindo.

Excelência para poucos

Primeiro, há que manter um selectivo sector de excelência que forme as elites científicas
e de gestão, enformado pelo modelo da escola clássica, criador de espírito
crítico. No escalão seguinte, ensinam-se competências técnicas com semi-vida
estimada de dez anos e ligadas a tecnologias efémeras. Competências descartáveis
quando as tecnologias são superadas e cuja aprendizagem não exige autonomia, nem
criatividade e, no limite, pode ser feita em casa, frente ao computador.
Ajustada ao ensino multimédia à distância proporciona negócio às grandes firmas
e torna dispensáveis milhares de professores, sonho economicista e político dos
meios do poder.

Ignorância para muitos

Resta o escalão dos supra-numerários (com
emprego precário e flexível) que, “jamais constituirão um mercado rentável” e a
quem “a transmissão de saberes críticos e mesmo de comportamento cívicos e o
encorajamento à rectidão e à honestidade” é indesejável. A esses se destina a
escola dos grandes números, a escola que deve ensinar a ignorância coerente com
Brzezinsky. É a escola que produz ignorantes diplomados, incapazes de
compreender um texto, ou serem proficientes em matemática. O ensino da
ignorância é objectivo ao qual os professores tradicionais, apesar de excepções,
se ajustam mal o que implica a sua reeducação por neo-especialistas em ciências
da educação. Estes peritos têm por missão impor condições de “dissolução da
lógica” no Ensino, real revolução cultural porque, até recentemente, “toda a
gente pensava com um mínimo de lógica, com a notável excepção dos cretinos e dos
militantes” . Os professores tornar-se-ão animadores de actividades transversais
e assistentes psicológicos. A escola será um espaço acrítico, um local de
animação (Thanksgiving, Halloween…) confiada a associações de pais, aberto a
todas as mercadorias tecnológicas ou culturais. Fascinante e preocupante!
Difícil acreditar que haja esta estratégia capitalista específica, mas as mesmas
consequências resultam de políticas incompetentes e do deslumbramento
estrangeirado que assolam o país. É imperativo de cidadania reverter decisões e
políticas que alicerçam um Ensino da Ignorância que converta 80% dos portugueses
em supra numerários embrutecidos de uma UE, ela própria, ameaçada pelo mesmo
mal

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