5 de março de 2008

O futuro das universidades?

Bruno Maçães fala no Diário Económico, em A criação do mundo, de universidades, sobre o serviço de educação que prestam, da evolução do mercado do trabalho. Os seus artigos são sempre curiosos, afirmam teses atípicas, mas merecem sempre atenção - este, em particular: aquilo que diz sobre o conhecimento digitalizado tem sentido. Excertos:

"...As grandes universidades mundiais, aquelas que conheço, fazem um péssimo trabalho de educação. São óptimos sítios onde se estudar, claro, porque toda a gente ou quase toda a gente que os frequenta é terrivelmente esperto, mas nada do que acontece durante os quatro anos de estudo é particularmente recomendável. Toda a gente sabe que é assim: um empregador não está minimamente interessado no que o aluno aprendeu. O que o atrai é a inteligência bruta do candidato, que a universidade se deu ao meticuloso trabalho de medir quatro anos antes e que nem a pior educação do mundo pode estragar
[esta tese é já antiga]."

"Por enquanto isto tem funcionado, mas as contradições entre a universidade e o mundo à sua volta começam a ser demasiado grandes. Se eu tivesse de dar conselhos aos pais de uma criança acabada de nascer, a primeira coisa que lhes diria é que não ensinem uma profissão ao filho ou filha. Quase todas a profissões serão mais ou menos inúteis dentro de duas décadas, quando tivermos computadores capazes não só de comprar e vender, produzir e pesquisar, como acontece já hoje, mas também de escrever os seus próprios programas. Em compensação, a capacidade de perceber o mundo à nossa volta vai valer muito: um minúsculo investimento na empresa certa rapidamente renderá milhões. Quanto mais poderosos se tornarem os nossos computadores, mais inútil se tornará o conhecimento capaz de ser digitalizado."

"Como será a universidade do futuro? Julgo que não me enganarei se disser que será semelhante às melhores empresas de hoje. Bem mais caótica do que as universidades actuais, um sítio onde a transmissão de conhecimento se fará mais eficazmente em situações informais, ao almoço ou no ginásio, do que na sala de aula. Uma escola sem disciplinas, onde tudo pode ser igualmente estudado, dependendo das circunstâncias. Um projecto global, sem ligações privilegiadas a um país ou a uma cultura. Uma empresa onde o dinheiro, muito dinheiro, seja visto como um meio de fazer grandes coisas, sem ascetismo ou timidez. Uma aventura onde não mudar de opinião seja considerado um fracasso e onde, ao fim do dia, de exaustão, só apeteça dormir."

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