Qimonda

A-propósito da Qimonda será proveitoso ler aquilo que Paulo Soares de Pinho diz em Semicondutores Económico . E mais proveitoso é quando se contrapõe o caso da Qimonda ao caso da inventora do transístor de papel:

"Na passada semana a Assembleia da República homenageou a professora Elvira Fortunato, inventora do transístor de papel. Esta é uma descoberta fundamental, que rasgou convenções e ideias-feitas, que abre um sem-número de oportunidades e catapultou esta investigadora para o topo mundial no seu ramo científico, granjeando-lhe um dos mais importantes prémios de investigação europeus. Para Portugal, a possibilidade de explorar esta tecnologia coloca o país na vanguarda do mundo dos semicondutores, capturando o valor acrescentado a partir dela gerado.

Contudo, enquanto o país se desdobrava em esforços para manter em produção uma fábrica de tecnologia alheia em Vila do Conde, no país do choque tecnológico não houve uma empresa pública ou privada que se interessasse em pegar no projecto, acabando por ser a Universidade Nova de Lisboa e a sua Faculdade de Ciências e Tecnologia a financiar as (caríssimas) patentes, para que tão valiosa propriedade intelectual permanecesse protegida e em mãos nacionais.

Proteger a Qimonda significa preservar, no curto-prazo, mil e setecentos empregos que a lógica do comércio mundial há muito condenou a desaparecer. O impacto do desaparecimento da fábrica será dramático para muitas famílias. Com inevitáveis reflexos eleitorais. Mas é passado.

Apostar no transístor de papel seria dar um verdadeiro choque tecnológico com significativo potencial de criação de emprego qualificado futuro e de apropriação de valor acrescentado nacional. Seria passar a competir com a tecnologia de ponta Ocidental e não com os salários chineses. Mas os empregos e rendimentos futuros não votam hoje. E nessa matéria os políticos não são diferentes dos banqueiros de investimentos que tanto criticam por gerir com uma óptica de mero curto-prazo. Portugal é que fica a perder."