15 de junho de 2009

Sócrates e o caso do Freeport

Do blogue de Nicolau Santos, no Expresso (e sem comentários) - transcrição completa:

"Cerca de um mês depois do caso Freeport ter explodido com fragor, o balão parece estar a esvaziar-se rapidamente. Para quem esperava com o caso derrubar o primeiro-ministro, começa a ser evidente que faltam balas para liquidar José Sócrates.

Em primeiro lugar, está hoje claro que tudo o que veio na carta rogatória do Serious Fraud Office era, na essência, o que estava na carta que a polícia portuguesa mandara para Inglaterra em 2005 a solicitar informações sobre o assunto. De forma mais clara: o nome de Sócrates já ia nessa carta de 2005 - e agora veio de volta.

Em segundo, o que foi anunciado como o motivo para o caso ter tido um novo empurrão, a compra do grupo Freeport pelo grupo Carlyle, que teria descoberto um buraco nas contas e os tais 4 milhões a caminho de Portugal, foi, total e cabalmente, desmentido pelo porta-voz da Carlyle em Portugal, António Cunha Vaz, que negou ter sido encontrado qualquer buraco nas contas.

Em terceiro, a famosa reunião em que Sócrates teria estado apenas com três representantes do Freeport e onde teria pedido dinheiro, é negada pelo primeiro-ministro e ninguém a confirma.
Em quarto, o tio de Sócrates que, soubemos agora, tem Parkinson em estado inicial, afinal garante que telefonou ao sobrinho Zézito para denunciar que andavam a pedir dinheiro ao sr. Charles Smith, enquanto representante da Freeport, para o projecto avançar, coisa que considerou inadmissível. Por isso, avisou Sócrates e por isso este disse para o senhor se dirigir ao seu gabinete para explicar o que se estava a passar.

Em quinto, o Serious Fraud Office afinal não é tão eficiente como isso e foi alvo de uma auditoria, por parte de uma especialista americana, que concluiu pela incompetência de grande parte da actuação deste organismo e que levou ao despedimento de vários dos seus colaboradores.

Em sexto, afinal dos quatro milhões não se sabe de quê (de euros? de contos? de libras?) que vieram para Portugal para permitir o licenciamento do Freeport, metade terão ficado logo na Grã-Bretanha. Seria para pagar a alguém em Inglaterra que pudesse interferir no processo em Portugal? Ou será que não se pode concluir daqui que alguém pediu dinheiro sob o argumento de que era preciso pagar aos portugueses para o processo andar para a frente e afinal se locupletou com a maquia?

Claro que há que seguir o rasto do dinheiro (mas dinheiro de quem, se agora parece que não era do Freeport?) e saber às contas de quem foi parar. Mas começa a ser evidente que dificilmente será possível acusar Sócrates de ter cometido algum acto ilícito no licenciamento do Freeport.

É claro que, se acreditarmos em cabalas, o nome do primeiro-ministro ficou enlameado. E se esse era o objectivo, foi atingido. Mas já vamos no quarto processo deste tipo contra Sócrates, todos a começarem por apontar para factos ilícitos ou irregulares, que acabam depois no costume: em bolas de sabão e no julgamento do carácter do primeiro-ministro.

Só que o carácter julga-se com base em factos e não em suspeições. E até agora, desde as casinhas da Guarda ao Freeport, passando pela licenciatura, ainda ninguém conseguiu ligar Sócrates, com factos indiscutíveis, a situações que não são toleráveis num primeiro-ministro, mesmo que tenham sido cometidas antes de chegar ao cargo."
- tirado de Freeport queres ver que ele se safa? - Expresso.pt
PS: Esta nota, apercebi-me agora, é de 10 de Fevereiro passado, mas mantém toda a actualidade, e não foi desmentida pelo passar dos meses.
PS: Aliás, mais esta nota, do mesmo e sobre o mesmo, Dez pontos sobre o caso Freeport - Expresso.pt, que manteve a frescura e a actualidade.

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