12 de julho de 2009

O artigo do Grist que não consegui colocar no Blasfémias

O Blasfémias fez cessar a publicação de comentários à publicação de uma sua nota (denegacionista) sobre o comportamento do gelo da Antárctica (aqui) - a discussão permitiu a desmontagem do argumento, e possibilitou uma discussão curiosa e instrutiva: - sobre o conteúdo curioso, haveria a dizer que "não acredito em bruxas, mas que as há, há" (se não entende, visite a discussão, e construa a sua opinião). O "copy and paste" abaixo é um artigo que quis apresentar nessa discussão, sobre o trabalho dos climatalogistas com os seus modelos (assunto recorrente nestas discussões, cá e em todo o lado). Haveria mais a apresentar, mas terão percebido onde iriam acabar as coisas.
Mas que foi divertido, foi:
The problem with climate-model criticism Grist


I have a paper [PDF] in this week’s Science discussing the water vapor feedback. It is a Perspective, meaning that it is a summary of the existing literature rather than new scientific results. In it, my co-author Steve Sherwood and I discuss the mountain of evidence in support of a strong and positive water vapor feedback. Interestingly, it seems that just about everybody now agrees water vapor provides a robustly strong and positive feedback. Roy Spencer even sent me email saying that he agrees.

What I want to focus on here is model verification. If you read the blogs, you’ll often see people say things like “the models are completely unvalidated.” What they mean is that no one has produced a 100-year climate run with a model, then waited a hundred years, and evaluated how the model did. There are many practical problems with doing this, but the biggest is that by the time you determine if your model was right or not, it would be too late to take any meaningful action to head off the problem.

Of course, we could compare the last 150 years of observations to climate model runs for that same period. This has been done, and the models do a pretty good job. But because the models are constructed with knowledge of the present climate, this is clearly a weaker test than one in which you do not know what the answer is in advance.

What about comparing the climate models with shorter temperature records? Like 10 or 15 years? This will not work. In order for the models to correctly simulate short timescales like this, the models have to be initialized with the atmosphere’s present state. This is not done, so short-term fluctuations in the model and in the atmosphere may be completely uncorrelated, and over short times the temperature record may diverge significantly.

So how do we get a sense of the reliability of climate models? The approach taken by the scientific community is really the only one available: analyze and validate the individual processes in the climate models. Thus, the focus of my work has been to study the water vapor feedback and validate its incorporation into climate models. What we have found is that the models appear to be doing a pretty good job at getting this key parameter correct.

If you can validate enough processes of the model (water vapor, clouds, ice, oceans, etc.) then you generate confidence that your model is probably making predictions that are at least in the ballpark. In addition, it gives you a good feeling of where the weak points in the model all are. For example, this type of analysis has demonstrated that most of the uncertainty in the model predictions arises due to clouds.

And having identified the most uncertain processes in the model, you can use other physical constraints to bound their magnitude. For example, a strong argument can be made that the cloud feedback is unlikely to be large and negative.

Once you have a good handle on the individual processes that are operating in the climate, then you can actually estimate future warming without a climate model.

Thus, saying that climate models are “unvalidated” sells them short. They may not have been validated in all the ways we would like to validate them, but scientists have indeed spent a lot of time studying and validating the individual physical processes within the models. The result of this is that we can have a reasonably high confidence that we will get a few degrees of warming by the end of the century if emissions are not reduced.

PS: Como continua a ser curioso: surgiu agora um comentário, de outra pessoa, passado quase um dia. Aparentemente, o Blasfémias só suspendeu os meus comentários, ou então estou a cometer um erro qualquer. Vou tentar de novo
PS (2): Consegui introduzir o artigo no Blasfémias, mas sem indicação do link do site onde retirei o artigo - note-se que não só eu, como muitos outros, colocámos diversos links nos seus comentários (alguém tem uma explicação para isto?) . Penso que apesar disso a discussão terá mesmo terminado, o que é uma pena: tinha ainda tanto material para colocar.

    PS (14.07): Não, não terminou - continua.

4 comentários:

joserui disse...

Caro José Matias, no Blasfémias nunca há discussões interessantes sobre aquecimento global (e sobre o resto tenho dúvidas). Antes era o João Miranda o idiota útil, agora dividem a tarefa por vários. E aparecem sempre os lidadores, sem um único argumento a avacalhar toda a racionalidade. É por isso que nem me dei ao trabalho de preencher o nome neste "regresso" ao fim de muitos anos.
Repare que mesmo o que me perguntou se queria que me fizesse o trabalho de casa, depois não indicou uma única fonte. A razão é simples: Em pelo menos cinco anos de pesquisa, ainda não descobri alegados cientistas negacionistas que não tenham relações documentadas com a indústria interessada. Cavalgam a incerteza do "antropogénico", como antes cavalgaram a incerteza do cancro do pulmão provocado pelo tabaco.
O lidador quer discutir 0,5ºC em 100 anos, como se fosse uma progressão linear. E dá jeito 100 anos. Mas para o gelo da Antárctida já dá jeito meia-dúzia de anos. Agora já aparecia um a garantir que o nível do mar está a descer porque provavelmente lhe dá jeito a maré baixa. Apresentam gráficos como o de Beck, mas depois ninguém responde às questões óbvias.
Junte-lhe o facto que ninguém lê nada na internet (designadamente os seus copy/pastes) e já pode imaginar os resultados. Também não se pode mencionar os ódios de estimação daquela gente (Real Climate, Climate Progress...), tem de se mencionar os estudos originais, senão depois está tudo concentrado a discutir a credibilidade deste e daquele (quando isso poderia ser discutido com mérito ao contrário -- centenas de tipos foram e são apanhados a mentir descaradamente sobre o assunto. O habitual é acabar em em peixeirada. -- JRF
PS: Também foram bloqueados comentários meus (tipo este), mas é mais falta de conhecimentos deles que alguma tentativa de censura.

José Matias disse...

Caro José Rui
Obrigado pela informação. Embora, seja a primeira vez que entrei na liça a sério - e diverti-me, confesso - não tenho dúvidas sobre aonde os intervenientes vão buscar os seus argumentos (sugiro que veja o vídeo apresentado aqui: http://scienceblogs.com/strangerfruit/2008/02/oreskes_on_global_warming_deni.php - vou colocá-lo no meu blogie). A minha única dúvida, seria a de saber se são negacionistas convictos - inocentes, contaminados pelos "memes" criados pelos interesses ligados aos combustíveis fósseis (aqui, em S.Miguel, conheço um) - ou estão a trabalhar (fria e marcenáriamente) para esses interesses, como Monbiot denunciou num artigo que referenciei na discussão. Enfim, para evitar ser excessivamente paranóico (o fundador da Intel dizia, no entanto, que convinha ser sempre um bocado paranóico) vou admitir a primeira hipótese, já que não estou a ver a Exxon (ou a Galp, ...) a financiar os outros nossos interlocutores.
No entretanto, enquanto tiver pachora, vou colocando mais alguns "copy and paste" - deve haver sempre alguém que os leia, embora, infelizmente, não tenho nada a qualificar ao que diz quanto à capacidade de leitura dos "denegacionistas" de cá, e de lá.

joserui disse...

Estou convencido que cá praticamente nenhum está ligado à indústria que pode de alguma forma sair beliscada com algumas medidas. E beliscada é no máximo.
Até a cosmética da BP tive de discutir, isto é decente ou racional? Não é. E inquina qualquer conversa, porque se vamos para esse nível, só se for para desconversar.
O bias principal é o liberalismo. A política. São uns tipos mais ou menos fanatizados pela ideia da globalização e riqueza da modernidade. E julgam que quem acredite que o AG está aí é um cavernícola que não quer mais nada que não seja voltar às cavernas. Isso e ser de esquerda. Nesse aspecto o tal lidador bateu tudo.
Mas a conversa é sempre a mesma há anos. Lá veio o tipo com a "experiência social" à escala planetária (as renováveis), que já o João Miranda usava, tendo ido beber ao site Junk Science de um mentiroso profissional. O petróleo, a poluição, a destruição do ambiente que só um ceguinho é que não vê, isso não é "experiência social" à escala planetária. Eles é que sabem as que são e as que não são.
Mas eu entendo a diversão, eu sentia-me assim há cinco ou seis anos. Entretanto deixou de ter piada. Passaram-se os anos, os estudos são às centenas virtualmente todos no mesmo sentido e a conversa continua a mesma. Não há paciência. É uma cambada de free riders que se puderem sacar sem dar nada em troca, é o que farão. Pouco lhes interessa o que deixam aos filhos. -- JRF

José Matias disse...

A piada também terminou para mim - revi o vídeo, e o resultado foi ficar deprimido, e a piada foi-se. Tentei ainda fazer o copy and paste da informação da Greenpeace sobre o Heartland Institute, e não passou.
Quanto à tese da importância da ideologia na conformação das posições sobre as posições denegacionistas,tem razão: isso é invocada pela Oreskes, no vídeo, ao fim, para explicar as raízes do movimento.