27 de outubro de 2009

Do poder, do género e das imperfeições do mercado político

Não sei se repararam, mas a posição contrária à imposição de quotas de representação das mulheres na política - as quotas sendo um instrumento provisório de alteração do perfil do controle do poder, conducente à criação de uma testa de ponte feminina no domínio do político - tem como sustentáculo argumentativo (como "rationale") a mesma linha da defesa à outrance da eficiência perfeita dos mercados na resolução dos problemas económicos. Quer num caso, quer no outro, existe a mesma fundação ideológica, e quer num caso, quer no outro, defende-se que os mercados - os políticos e os económicos - deixados ao seu livre arbítrio, darão lugar, invariavelmente, aos melhores resultados, aos resultados mais eficientes. Quando existem economistas, mesmo de esquerda, a negar a necessidade das quotas, deveriam ser lembrados, que também nos mercados políticos, existem entraves à livre entrada no mercado, além de muitas outras diferenças para a situação óptima do que seria o similar da concorrência perfeita naqueles.

No século XIX, nos EUA, antes da Guerra Civil, os esclavagistas mais sensíveis, defendiam que o problema da escravatura se resolveria de forma natural ao longo dos cinquenta, cem anos seguintes: - ora, como é bom de ver, no longo prazo, os problemas serão todos resolvidos; claro que estaremos todos mortos, mas, no entretanto, os beneficiários de tudo o que está mal, cuspirão o  "carpem diem", ou, se forem pulhas conscientes: "aprés moi, le déluge".

Tenho mais coisas escritas sobre isto (utilizar o motor de busca do blogue para procurar sobre género).

Ler em Political competition and gender quotas vox - Research-based policy analysis and commentary from leading economists: "As women are underrepresented amongst legislators, many governments impose gender quotas on candidate lists. This column examines Spain’s elections and argues that its political parties evade the quota. It claims that parties use female candidates as pawns chosen according to how their presence in the list would affect gender statistics and male candidates’ possibilities of success."

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