"[...] E nas últimas semanas, as previsões da Comissão Europeia e de outras organizações internacionais sobre as perspectivas para a economia portuguesa [... apontam para] Crescimento medíocre, desemprego elevado, ‘deficits' explosivos (valores até 8% do PIB) e dívida pública a ameaçar chegar aos 90% [...]
Por isso não deixa de surpreender que o Programa do Governo tenha ignorado quase por completo esta impensável trajectória económica, deixando apenas uma breve referência à importância (pelos vistos secundária) do endividamento externo, optando por concentrar as "medidas combate à crise" no habitual programa de obras públicas cujos beneficiários directos são fáceis de identificar, os respectivos pagadores futuros seremos todos nós, e cuja credibilidade de execução acaba de ser posta em causa por um relatório demolidor do Tribunal de Contas sobre algumas das obras mais recentes. Mais estranho, é que a uma crise de endividamento se responda com um radical aumento da despesa.
Mas Portugal tem alguma experiência destas situações. No final do Século XIX, após alguns excessos de obras públicas, designadamente em caminhos de ferro (‘dejá vu'), o país viu-se em situação de incumprimento perante os seus credores internacionais. Em 1898 a Inglaterra e a Alemanha concordaram em tomar as nossas colónias como garantia do pagamento da dívida. Uma disputa sobre os Açores, a Grande Guerra e uma humilhante reestruturação da dívida salvaram-nos nessa ocasião. Será que o nosso Governo tem um plano genial para sair desta? Nós, os futuros pagadores desta "nova" dívida, gostávamos de o conhecer."
A lição de 1898 | Paulo Soares de Pinho| Económico
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