10 de janeiro de 2010

E continua ... há coisas mais estranhas a suceder, em termos de tempo, do que os nevões que ocorrem em diversas partes (não em todas) do Hemisfério Norte



Nota: Clicar nas imagens e nos gráficos para aceder a versões maiores.

A minha última nota terminou com a promessa de colocar on-line um conjunto de referências ilustrando a diferença entre clima (domínio da climatologia) e tempo (domínio da meteorologia). A promessa mantém-se, mas uma outra questão tem-se vindo a interpor, também relacionada com o tempo que está a fazer, que justifica, de imediato, por uma questão de oportunidade, a colocação desta nota.

Não só o frio não se foi embora, como neva como não se via há muito tempo (a fotografia acima da Grã-Bretanha ilustra-o) e, no entanto, as notícias começam a ser menos normais em relação a outros aspectos da questão: o frio que faz a partir de dadas latitudes, para o sul, não é acompanhado, em termos do sentido da intensidade, por aquele que se verifica no Árctico (o frio que aí se verifica é muito menor do que é usual para esta época do ano) e em outras áreas geográficas do hemisfério norte (e.g. o  nordeste do Canadá, o Alasca), mas, onde as coisas começam a ficar, mesmo estranhas, é  na Corrente do Golfo, que estaria a passar por uma  alteração, ou uma perturbação, na trajectória do seu ramo superior. A confirmar-se isso, primeiro, e ainda que o fenómeno seja reversível a curto trecho, tal  é preocupante (se aconteceu, porque aconteceu? e  se volta a acontecer?); segundo, se se confirmasse a ocorrência e, se ela se viesse a revelar persistente, entraríamos num outro cenário,  que deixo ao cuidado dos leitores deste blogue, adjectivar e deduzir as consequências.

Eu li a referência a essa aparente anomalia (para mim, que sei pouco do assunto) no blogue do economista Brad DeLong que a epigrafou de NOT GOOD, NOT GOOD, e a foi buscar ao Daily Kos, que a encima na nota que fez sobre a situação meteorológica (primeira imagem abaixo), e a completa com a informação do que se passa no Árctico - o Daily Kos foi buscar a informação a outro local: muito interessante - devem lê-la. A reacção dos leitores do primeiro blogue à notícia foi de extrema prudência (conviria que lessem esses comentários): nomeadamente, notam que ninguém no blogosfera científica ainda agarrou no assunto - assim, ou é um falso alarme, ou então é uma situação recorrente, embora não frequente, a explicar a seu tempo; ou então, está toda a gente surpreendida, a ver o que se passa, porque o assunto pode ser sério e ninguém quer correr o risco de dar palpites não fundamentados. Acompanho o que se diz nesses comentários, e inclino-me (quero inclinar-me) para a primeira possibilidade.


"An unprecedented extreme in the northern hemisphere atmospheric circulation has driven a strong direct connecting current between the Gulf Stream and the West Greenland current. The unprecedented negativity of the "Arctic Oscillation" and the strong connection of the Gulf Stream with the Greenland current are exceptional events. More exceptional weather events are predicted with anthropogenic climate change, but this could be a natural variation of weather and currents."

Os gráficos e imagens logo abaixo saíram no Daily Kos (mas vêm, alguns deles, também na primeira referência ao Climate  Progress, e na Arctic Sea Ice News & Analysis)



Map of air temperature anomalies for December 2009, at roughly 3,000 feet above surface, Areas in orange and red are warm anomalies, areas in blue and purple are cool.
  • Where on Earth is it unusually warm? Greenland and the Arctic Ocean, which is full of rotten ice « Climate Progress: "New study supports finding that 'the amount of [multi-year] sea ice in the northern hemisphere was the lowest on record in 2009'"   It’s cold here and in northern Eurasia, but it’s been positively toasty around the Arctic circle — thanks to an extreme negative phase of the Arctic Oscillation, as the National Snow and Ice Data Center (NSIDC) explained in their online report yesterday.The temperatures reported by NSIDC show some Arctic anomalies exceeding 7°C (13°F)! That’s not good news for the kind of re-freezing one wants to see in the otherwise rapidly melting Greenland ice sheet (see Nature: “Dynamic thinning of Greenland and Antarctic ice-sheet ocean margins is more sensitive, pervasive, enduring and important than previously realized”). It’s also one reason “December 2009 had the fourth-lowest average ice extent for the month since the beginning of satellite records, falling just above the extent for 2007. The linear rate of decline for December is now 3.3% per decade.”   
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  • Melt season for Canadian Arctic sea ice outpacing global average: "American researchers suggest the melting season for Arctic sea ice is growing faster across much of the Canadian Arctic than anywhere else in the world. A recently published article outlines how they used satellite microwave data to measure when sea ice begins to melt in the spring and when it starts refreezing in the fall. The researchers were able to look with 99 per cent accuracy as far back as 1979 and examine the entire circumpolar globe, the first time scientists have been able to do so. They found that, on average, sea ice has started melting 2.5 days earlier every decade and begun to refreeze 3.7 days later. That means the average melt season is just under 20 days longer than it was 30 years ago." 
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  • Met Office: “It is not cold everywhere in the world.” « Climate Progress: "More significantly, the Met Office notes (and yes the figure above is their posting of last week’s land-surface temperature anomalies [o mapa seguinte]): … it is not cold everywhere in the world. North-east America, Canada, North Africa, the Mediterranean, and south-west Asia have all seen temperatures above normal – in many places by more than 5 °C, and in parts of northern Canada, by more than 10 °C."  
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  • ambio: O arrefecimento do Reino Unido: "Esta espectacular fotografia [é aquela que encima esta nota] foi tirada no dia 7 de Janeiro de 2010 por um satélite da NASA. É um presente de ano novo que regalo aos negacionistas. [...] O texto abaixo, também do dia 7 de Janeiro, é retirado da revista Brasileira ADEGA que, como o nome indica, trata de vinhos. É o meu presente aos alarmistas. 'Apesar do verão atípico do ano passado, os vinicultores classificaram a safra de 2009 como 'uma das melhores da história. O mês de Julho na Inglaterra foi marcado pelo clima húmido, principalmente no sudoeste do país, o que poderia ter afectado a safra, se não fosse o calor percebido no outono. Pelo visto, essa confusão de climas e temperaturas apenas tornou a uva ainda mais gostosa. A associação dos Produtores de Vinho da Inglaterra reportou que foram colhidas frutas excepcionais em todo o país, com as variedades Chardonnay e as Pinots possuindo nível alcoólico possivelmente entre 11% e 13%'. [...] A vantagem de confundir meteorologia com clima é a possibilidade que nos oferece de agradar a todos." 
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  • Cold Patches in a Warm World - Dot Earth Blog - NYTimes.com: "There’s been an unrelenting string of commentary on Dot Earth, and in some other news outlets, from people passionately pointing to the cold conditions around the Northern Hemisphere and crowing about the end of global warming. Following up on my post from last week on the Arctic Oscillation, Ken Chang has written a Week in Review story with a bit more detail on the unusual atmospheric patterns behind the big, but very constrained, chill, and the dominance of warm conditions — just not where a lot of Western media are situated. (As I wrote, it was raining in parts of Greenland about a week ago.) [...]To help clarify the global situation, I thought it worth a look at the map above, from Britain’s Met Office, which vividly illustrates the wishful nature of any thought that global cooling is somehow breaking out. Red areas are warmer than normal and blue cooler. (I’ll update this when the weather office posts the next iteration.) Maybe this outbreak of cold claims illustrates that the world is divided into red and blue states of mind in more ways than one?"


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