12 de março de 2011

Confrangedor

Cada um tem o direito de escolher a formação que mais se adequa ao perfil das suas preferências e curiosidades intelectuais. Daí ser legítimo que se escolha qualquer formação. Mas escolher aquilo de que se gosta, por vezes, tem um custo: deveria ser uma questão de bom senso saber-se que a procura de determinadas formações é escassa no mercado de trabalho português, pelo que, escolhê-las, é um risco se se pretende, em primeiro lugar, a empregabilidade, como também a boa empregabilidade. Quanto muito a formação universitária, qualquer que ela seja - e é bom que ela tenha seja conseguida de forma esforçada - é uma plataforma sobre onde, em princípio, se construirá um percurso profissional melhor, independentemente do seu ponto de partida: um repositor de hipermercado com formação universitária - de novo, em princípio - se tiver a atitude correcta, irá ter um percurso profissional melhor e mais compensador ao longo da vida do que o seu colega que não tem essa formação, porque é pressuposto que tenha competências e capacidades diferentes e mais exigentes.

Isto é uma verdade à La Palice (embora, como se disse aqui...) Qualquer aluno universitário deve sabê-lo; os pais devem sabê-lo; os professores devem dizê-lo; e as Universidades deveriam ter o cuidado de frisá-lo, e já agora, deveriam ter  tido muito mais cuidado com o que ofereceram. Se querem tirar um curso de Relações Internacionais, de Comunicação Social, de Assuntos Europeus, ou mestrados sobre a problemática da Paz (ouvi eu na TV), ou quaisquer outros, por uma questão de curiosidade ou aprofundamento intelectual, excelente, mas, mais do que isso, ninguém pode assegurar seja o que for - a insegurança e a precariedade combatem-se com formações de banda larga, com a multiplicação de formações, com as atitudes correctas e exigentes, e mesmo assim não é seguro que à partida se consiga o  tal emprego de Dr.. 


Um conjunto de proponentes da manifestação de hoje, numa cidade do continente, que falavam na TV sobre aquela, de formação adquirida, de ausência de emprego e de precariedade, eram todos licenciados naquelas áreas. Foi confrangedor.

Tenho um familiar que está a tirar (e a adorar) Sociologia, que é um curso de banda larga, e como tal como mais empregabilidade de que aqueles cursos, mas ainda assim com problemas graves nesse particular: - toda a gente lhe diz (pais, amigos sociólogos, professores), que é necessário trabalhar no duro (estudar, ler, praticar) para obter notas (muito altas); que deve procurar efectuar trabalhos eventuais para engordar o curriculum; que deve ir ao Erasmo; que deve procurar ser proficiente em inglês e em mais línguas; que deve fazer mestrado, no mínimo (é espantoso, neste quadro todo, que muitos alunos se quedam só pela licenciatura de três anos); que deve aprofundar os conhecimentos sobre os métodos quantitativos na sua área, e mesmo assim, todos lhe vão dizendo (a sorrir) que irá ser uma repositora de hiper com excelente formação. Não acredito que tenha ido à manifestação.

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