25 de março de 2011

No entretanto, importa recordar a história recente ....

Eu vou fazendo um esforço para não esquecer todos os aspetos do problema. É tudo uma questão de ir exercitando a honestidade intelectual. E o que se segue, vindo de alguém que respeito, parece-me correto e de acordo com o que efectivamente se passou, esperando, no entanto, que a última frase não seja mais do que um desabafo, não tendo qualquer aderência à realidade - se a frase for mais do que isso, é uma frase assassina. Deverão ler o artigo na totalidade: 

Da credibilidade | Vítor Bento | Económico: ‘The absence of trust is clearly inimical to a well-run society’. Tony Judt, Ill Fares the Land

Quando o Orçamento de Estado para 2009 foi aprovado - contemplando um eleitoralista aumento salarial de 2.9% -, tinha previsto um défice global de 2.2% do PIB, assente numa previsão de crescimento do PIB de 0.6% (apesar da queda de 1.3% prevista para a zona euro e de a economia já estar em recessão). A maioria dos economistas não alinhados advertiu logo para o irrealismo, quer da previsão económica, quer do défice orçamental.

Mal o Orçamento foi aprovado, foi logo corrigido através de uma Iniciativa para o Investimento e o Emprego que implicava, segundo o anúncio feito e para além da utilização de fundos comunitários, um acréscimo de despesa orçamental correspondente a 0.8% do PIB, colocando, por conseguinte e implicitamente, o défice global do Orçamento acabar de aprovar nos "míticos" 3% do PIB. Mas recusando-se a reconhecer que o valor real seria inevitavelmente muito superior a esse limite, para não contrariar a narrativa eleitoral "optimista" que negava qualquer crise financeira.
Com o decorrer do ano, o inevitável agravamento da recessão e o irrealismo de que partira, a situação orçamental foi-se afundando. Porém, contra todas as evidências e as análises de muitos economistas, a recusa governamental em pôr em causa a fantasiosa narrativa eleitoral manteve-se. De tal forma que, no exercício de reporte obrigatório à Comissão Europeia, feito nas vésperas do ato eleitoral, se reportou um défice de 5.8%, quando economistas - com muito menos informação do que a oficial - já diziam há meses que o valor não poderia ser inferior a 7%. É claro que as previsões económicas daquela Comissão, divulgadas pouco depois, já apresentavam um défice de 8%, mostrando a credibilidade atribuída ao que lhe fora reportado pelo Governo português. [....]

E continua .... A minha dúvida como cidadão é cada vez mais se outro governo saído da classe política portuguesa, armado das convicções prevalecentes sobre como atuar politicamente, no mesmo quadro, não teria atuado de modo semelhante. É óbvio que como defesa esta linha é medíocre e indesculpável, mas importa ter esta questão presente para não haver ilusões. 


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