20 de setembro de 2011

Pequenas notas, despreocupadas e sem reservas, na antecipação do que dirá o PM

  • Ferreira Machado disse aquilo que eu não conseguiria dizer de modo tão incisivo e curto: é preciso que o PM diga já o que a Madeira deve esperar, quer para efeitos externos, quer para efeitos nacionais e regionais, quer por motivos políticos, quer por mera questão de decência, e este é (pode ser) o momento definidor do mandato de Passos Coelho.
  • Contrariamente ao que se diz, Passos Coelho não necessita do PSD Madeira. Não necessita dos deputados Madeirenses agora, (se não estou enganado), e no futuro, não os terá porque o PSD Madeira afunda-se nos próximos quatro anos (mas, não nas eleições de Outubro). Mas se Passos Coelho falar claro e grosso - o que seria aquilo que, do ponto de vista ético, deveria sempre fazer - poderá dar um passo para ser reeleito nas próximas legislativas - os continentais, e não só, estão passados com Jardim.
  • Convenhamos: não é Jardim que é o problema - ele é o que é. Existem muitos outros Jardins. O problema é o sistema democrático não se ter dotado das medidas de segurança em termos de governança que minimizassem as possibilidades de práticas como as cometidas pelo senhor. As leis para a maior parte das pessoas são restrições inactivas: se não as houvessem continuariam a ser e a comportarem-se de modo, civicamente, correcto. As leis e os regulamentos existem para minimizar os comportamentos desviantes que estão na margem, que são, sociologicamente, minoritários (pelo menos, em sociedades como a nossa).
  • O PSD Açoriano teve uma típica reacção política pavloviana ao sugerir que pelos Açores haveriam problemas semelhantes. Não estão a perceber o filme em que estamos metidos. Ninguém que não não veja só para além do tradicional jogo partidário queria que houvesse, agora, buracos, e deste tipo de buracos, na Madeira. Logo ninguém quer mais buracos, mesmo que esses buracos sejam no quintal do vizinho mais odiado - porque vão sobrar para todos. O PSD Açoriano deveria ter referido que nos Açores, face à sua melhor informação, a situação não tem, nem de perto, nem de longe, semelhanças com a gravidade do que se passou na Madeira. A principal preocupação táctica do PSD Açoriano neste momento (e do nacional - de novo, o tal momento definidor) seria desmarcar-se de Jardim. Para mim isto é tão óbvio que acredito que mesmo na situação em que o PSD Açores, por mera hipótese de discussão, tivesse informação sólida em contrário, deveria proceder dessa forma, e a ter que falar de transparência agora, deveria fazê-lo relevando que o objectivo era haver uma total separação das águas entre as duas regiões autónomas na opinião pública, nacional e internacional - e só depois capitalizaria com as más notícias, havendo-as realmente. Para que conste, se houvesse problemas semelhantes nos Açores, eu teria a minha segunda grande surpresa na minha vida, e ambas da responsabilidade do PGRA.
  • E o povo da Madeira irá ser sábio? Muito, provavelmente, não. A sabedoria dos povos depende da tradição, da prática, do conhecimento e dos incentivos, e nos tempos que correm - por todo o lado e não só na Madeira - todo o processo político anda pela rua da amargura: quem foi que disse que a política era a arte de convencer um povo a cumprir um destino? Mas quando falo de sabedoria popular falo da acepção estrita do conceito: qual é a solução eleitoral que aumenta a capacidade contratual dos madeirences na minimização dos sacrifícios que virão aí? Cheira-me que um governo que não tenha o Jardim, de preferência formado só pela oposição, terá uma muito maior capacidade contratual face ao Governo da República. Jardim transformou-se, por culpa sua, na bête noire do regime, e dar-lhe pancada, e por inerência nos madeirenses - veja-se a cautela dos comunistas - são dividendos políticos em caixa. Passos Coelho quer (ou deveria querer) a vitória de Jardim por outros motivos que não os de mera solidariedade de partido: a vitória de Jardim será o afundanço eleitoral do PSD Madeira nas outras eleições legislativas regionais que não as de Outubro próximo, mas se o PSD nacional perde a Madeira pode, no entretanto, ganhar o País daqui a 4 anos (vejam-se as últimas sondagens).
  • O óbvio: a Lei das Finanças Regionais de Guterres foi o pináculo das boas venturanças que as Regiões Autónomas poderão almejar no domínio da solidariedade nacional.
  • E quanto aos Açores? A crise e agora Jardim serão os bodes expiatórios do que aí vem em termos de impactos sobre as regiões autónomas. Defendi sempre que estava convencido que o PS ganharia na Região em 2012. Essa convicção foi abalada com a crise e com a possível saída de Carlos César. Agora, já não sei, mas inclino-me, neste altura, para o que sentia anteriormente. Talvez desenvolva, futuramente, a idéia - se tiver pachorra para o efeito.

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