20 de setembro de 2011

Sobre a inovação na educação

O bold é meu:

Na semana passada, foi divulgado o estudo ‘Education at a Glance 2011’ da OCDE , em que se apresenta uma análise evolutiva dos sistemas educativos de 42 países ao longo das últimas décadas.

A média dos países da OCDE avançou, nos últimos 30 anos, 15 p.p. na proporção de pessoas com formação superior. Portugal, por sua vez, progrediu 16 p.p., apesar de ainda permanecer com um dos valores absolutos mais baixos da OCDE. O melhor desempenho neste quesito foi o da Coreia do Sul, que neste mesmo período aumentou em 50 p.p. a proporção de pessoas com formação superior.

Mas o que estes resultados não evidenciam é que a maioria dos modelos educativos em vigor, mesmo nos chamados países desenvolvidos, não tem acompanhado a rápida transformação do mundo moderno. Antes pelo contrário, até hoje a maioria dos sistemas educacionais tem-se concentrado na imposição de uniformidade curricular e de padrões desajustados das necessidades da nova Economia.


O especialista britânico em educação, Sir Ken Robinson, afirma que a escola, tal como a conhecemos hoje, é responsável por "matar a criatividade das crianças", impondo uma padronização a que ele chama de "modelo educativo tipo ‘fast food'", que empobrece os espíritos e desaproveita os talentos individuais. O problema é que no mundo global a criatividade e a inovação são competências críticas de sucesso.

Muitas são já as evidências de que a educação atual não incorpora totalmente o conhecimento que a ciência já detém sobre o desenvolvimento do intelecto. Dois exemplos concretos são o ensino da música e o multilingualismo.

Descobertas publicadas na revista Neurological Research mostraram que crianças que receberam aulas de piano alcançaram melhores resultados em testes que mediam a capacidade de raciocínio abstrato, do que crianças que não tiveram tais aulas. Estas descobertas revelaram que a música por si só aumenta as funções cerebrais exigidas em matemática e ciências. E não pensemos que só um país rico pode ensinar música às suas crianças.

A Venezuela, por exemplo, através do projeto ‘El sistema', já educou musicalmente quase meio milhão de crianças nos últimos 30 anos, entre elas génios da música como o jovem Gustavo Dudamel.

Sobre o multilingualismo, estudos recentes referenciados na revista Scientific American, parecem demonstrar que as crianças que aprendem mais do que um idioma com fluência evidenciam maiores capacidades cognitivas do que as crianças que crescem com monolingualismo. E, no entanto, são poucos os países que promovem o ensino bilingue.

Mas já existem casos de sucesso de inovação educativa, que estão a quebrar os paradigmas do século passado. Exemplos de Singapura, Hong Kong, Coreia do Sul, de Ontário no Canadá e da Saxónia na Alemanha, constituem referências na adoção de sistemas mais inovadores. Sistemas em que a carreira dos professores é muito valorizada, em que a ‘performance' é monitorada escola-a-escola, em que as escolas com melhor desempenho conquistam autonomia para adaptar os seus programas ao perfil e necessidades dos alunos, modelos em que as melhores práticas e a inovação são partilhadas entre escolas.

A consciência de que o mundo está em profunda e rápida transformação e de que a Sociedade precisa de novas competências para lidar com esta realidade deveria abrir portas para uma revolução educativa nas próximas décadas, que trouxesse inovação para os bancos da escola e que preparasse os jovens para o trabalho do futuro.

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