... os grandes problemas na gestão política raramente têm a ver com a escolha entre o bem e o mal. Surgem sobretudo quando se está perante a escolha entre dois males. Quando assim é, são necessárias pelo menos duas cautelas. Primeiro, uma cuidada aferição da malignidade de cada opção, por forma a identificar, com razoável clareza, qual o mal menor e o mal maior.
Segundo, a clarividência necessária para não sucumbir ao fundamentalismo moralista de considerar que mal é mal e, como tal, ambos devem ser recusados, pois a escolha de qualquer deles implicaria sempre a cedência ao mal e, como tal, seria sempre "pecaminosa". Esse fundamentalismo não só é perigoso, do ponto de vista prático - pelas consequências potencialmente desastrosas a que pode conduzir -, como é moralmente errado, porque assenta num vício de raciocínio. O vício desse fundamentalismo consiste em supor que, recusando-se escolher um dos males, se isenta da responsabilidade moral pelas consequências supervenientes. Ora, este é um entendimento profundamente errado do dever moral. Sempre que se está perante uma escolha, está-se perante uma decisão ética (por natureza e definição), não existindo, por isso, nenhum caminho moralmente des-responsabilizante. Mesmo a suposta "não escolha" é sempre uma escolha e influencia o curso dos acontecimentos. Constitui, por isso, responsabilidade moral para quem a pratica.
Mais concretamente e no caso em que se esteja perante dois males, a recusa de escolher activamente o mal menor, implica irrecusavelmente a escolha - "passiva", mas escolha! - do mal maior. A responsabilidade pelo resultado é, pois e sempre, moralmente iniludível, por mais que se pretenda purificar a atitude de recusar escolher. Pense-se no que teria acontecido à Europa e ao Mundo, se as democracias ocidentais tivessem recusado o mal menor - aliança com Estaline - na segunda guerra mundial...
agora, sobre as atribulações de um independente de esquerda nestes tempos da III República ...
11 de dezembro de 2011
Não deveríamos estar todos de acordo com isto? Infelizmente, não estamos - a dúvida está em saber porque assim acontece...
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