16 de janeiro de 2008

A minha alma está parva

Como reagir àquilo que Luís Filipe Menezes disse sobre o modo como as televisões deviam escolher os seus comentadores políticos? Acentuar a tontice? Dizer, como alguém que me era chegado: “ a minha alma está parva”? Para mim, o que resta, tudo pesado, é a perplexidade – veremos, como os que imputam a Sócrates todas as derivas fascizantes, autoritárias e antidemocráticas, se vão posicionar face ao episódio e interpretar aquilo que isto indicia (ou não), de substantivo, sobre a actual direcção do PSD (de um partido que se quer mais liberal – no sentido europeu –, menos direccionista, do que os partidos à sua esquerda). A minha perplexidade está, no entanto, virada para outro aspecto e é mais básica: como é que um dirigente político comete um erro assim. Porque é preciso perceber – (mas todos percebem isto, não é?) -, o papel dos comentadores políticos, particularmente, os televisivos, na formatação da opinião pública portuguesa, e em particular, de algumas das suas franjas mais estratégicas para a conformação dos resultados eleitorais.




A discussão (e informação) política, de qualidade, em Portugal, a que têm acesso os cidadãos, é veiculada, em parte muito importante, através, da comunicação social e dos comentadores (e programas) televisivos. Os partidos políticos portugueses, desistiram (demitiram-se) da tarefa: – o que fica, e que passa como tal, é em grande parte chicana e não é muito agradável (e proveitoso) de ver e ouvir. O vazio, assim criado, é preenchido pelo comentário político, produzido na comunicação social (em particular, na televisão), sob os mais diversos formatos, e com os mais diversos protagonistas. E com uma qualidade muito razoável, na sua maioria, é bom reconhecê-lo. O comentário não será inocente, corresponde a agendas próprias, mas prima por produzir, pela sua diversidade e qualidade, um bem público de primeira monta: informação factual e perspectiva ideológica sobre questões públicas fundamentais para o país. E com efeitos práticos – veja-se o que se passou com o processo de escolha do aeroporto de Lisboa; veja-se o que se passou com Santana Lopes, mas não só: esse comentário, essa análise política, é “consumida” principalmente por aquela franja da população que têm determinado quem governa e cuja opinião nas sondagens determina o sentido das mesmas. E o peso das comparações (em alguns casos, a escolha do mal menor) influencia muitas decisões de voto e o comentário político ajuda a destrinçar as diferenças. O comentário político não aceitará bem o que foi dito. Luís Filipe Menezes meteu o pé na poça - irá meter mais vezes?




Como é óbvio, vou estar muito atento ao que se dizer sobre os aspectos substantivos do caso.

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