18 de fevereiro de 2008

Ineficiências

Na pista das razões que explicam o "mal português" - que se traduz em ficarmos, sempre abaixo, do que poderíamos fazer, enquanto país - existe algo incontornável: a utilização ineficiente de recursos escassos e valiosos (e.g., o tempo de trabalho).








Um erro grave de apreciação é o de considerar que essa má utilização - quando ela é admitida (muitas vezes ela é subvalorizada ou negada) - se reconduz só (de modo estrito e directo) ao valor de mercado desses recursos (quanto se despendeu na sua aquisição). Existem custos indirectos (e dinâmicos) que, muitas vezes, são mais importantes do que os primeiros - os processos que levam à ineficiência, pela sua própria natureza, impedem que formas diferentes (mais eficazes; mais eficientes) de fazer as coisas, sejam testadas, experimentadas, utilizadas, (e isso são custos de oportunidade; são custos económicos efectivos, que acumulados ao longo de um trajecto histórico, determinam os estádios de menor desenvolvimento).








Um outro erro grave, é pensar que esse estado de coisas é imputável só a um conjunto de causas maiores, esquecendo-se o entretecer de circulos viciosos assentes em convicções, hábitos, práticas, rotinas, usos e costumes, disseminados por toda a população. A lei dos grandes números faz com que qualquer conjunto de actuações (positivas ou negativas) desempenhadas por grande número de actores tenha consequências muito significativas (positivas ou negativas) - o mal que um gafanhoto faz é reduzido; uma multidão de gafanhotos... As causas maiores que são invocadas, de modo corriqueiro, - os políticos; a maneira de ser dos portugueses; o nível de formação, etc. - mesmo quando carreando alguma verdade, são triviais, ou para o não serem, têm de ser qualificadas por outros factores, ou inseridas em quadros explicativos mais complexos, de modo a poderem suportar efectivas consequências operacionais.








Com este arrazoado queria acentuar o interesse deste artigo de António Monteiro Fernandes: Uma reunião importante - DiarioEconomico.com. Fala-nos de uma prática generalizada: a reunião. As reuniões podem ser importantes, mas para tal, devem estar condicionadas a alguns cuidados. Esses cuidados devem ser detectados e reflectidos em cada caso, à luz dos objectivos últimos que perseguimos. A reunite é (um) sintoma de que as organizações não estão bem. O mau funcionamento das organizações tem de ser contrariado, também, nos detalhes do que fazemos (por exemplo, as reuniões) - não é trabalho fácil: os detalhes reflectem o todo (as suas potencialidades e os seus limites); por alguma razão se diz que o diabo está nos detalhes.








O artigo termina assim: "... existem fundadas suspeitas de que as reuniões pré-decisionais eficientes e as das equipas de trabalho a sério explicam menos de dez por cento das enormidades de tempo, de paciência, de eficiência, que se consomem em reuniões, por esse país fora. Nada se faz sem – pelo menos – uma reunião. Reunir é um preceito através do qual se confere importância às pessoas e seriedade aos assuntos. A reunião permite, a uns, descansar o espírito e, sobretudo, garantir a irresponsabilidade. Para outros, é ensejo de afirmações pessoais e aproximações a quem interessa.Num caso ou noutro, muito deixa de ser feito para “se reunir”.Nada disto seria, porém, excessivamente grave se tais tempos de reunião não fossem, como são, absurdamente, considerados – “tempos de trabalho”.








O "mal português" tem mais parentes do que é usual pensar-se - é o que sucede, em regra, com os resultados de qualquer processo histórico.

Sem comentários: