25 de fevereiro de 2008

Portugal tem que pensar

João Marques de Almeida diz no Diário Económico Portugal tem que pensar. Seria trivial afirmar isso mas, acontece que em Portugal, em muitas situações, o trivial de uns, nem é relevado como importante por muitos - e em muitos casos, nem é admitido por estes como sendo um problema. Daí a necessidade de afirmar, pedagogicamente, uma e outra vez, algumas coisas triviais, dando-lhe, de preferência, algum carácter operacional, de modo o discurso ter alguma eficácia. Este artigo faz bem em relembrar este problema consabido (por alguns) mas fica muito para dizer - mesmo as causas dele não ser equacionado, pelo menos, são diversas. Excertos do artigo (o bold é meu e faço comentáris entre parêntesis rectos):


"No nosso país, não se pensa politicamente. É óbvio que alguns, individualmente, pensam e bem. Mas pensar políticas de um modo sistemático e organizado, não se faz. Em Portugal, há duas escolas dominantes sobre o modo como se deve “pensar” a política. A escola ideológica, que substitui o pensamento pela ideologia, não sendo capaz de escapar ao dogmatismo. É um obstáculo a políticas reformistas, recorrendo a argumentos ideológicos, misturados com muito populismo e demagogia, para as travar. É a escola dominante na extrema-esquerda e em parte do PS. Do outro lado, está a escola anti-ideológica, que desvaloriza a actividade intelectual e recusa qualquer tipo de debate conceptual ou de ideias. Basicamente, acreditam que “aqueles que estão na política” (visto que o seu anti-intelectualismo vai ao extremo de negar as virtudes da condição do político) devem “governar” e “executar”, e não pensar. Aliás, o estado em que está o nosso país mostra que muitas vezes têm razão. É a escola dominante em grande parte do centro-direita português. ....



.... Ou Portugal muda (e têm que mudar todos; a culpa não é deste ou daquele, é de todos), ou vai continuar a afundar-se na cauda da Europa. Mas agora, com 27, a cauda está muito mais longe da cabeça. Não é uma opinião, é um facto. Tudo isto vem a propósito do mundo dos ‘think-tanks’ europeus. Para um português, é uma grande desilusão olhar para redes de ‘think-tanks’ europeias, e não encontrar um único representante português. Aqui falo mais das áreas das políticas públicas ... Mas Portugal, nada. O primeiro obstáculo tem a ver com a atitude dos partidos políticos em Portugal. De um lado, julga-se que a ideologia chega; do outro lado, desvaloriza-se o pensamento.


De um modo transversal, há um problema comum: pensar a sério dá muito trabalho. É preciso ler, e muitas vezes leituras que não estimulam, mas informam, é preciso persistência, é preciso humildade, para se continuar a ter vontade de aprender e é preciso paciência e determinação para educar, para formular políticas públicas e para convencer. Infelizmente, tudo isto escasseia em Portugal. Em nenhum país europeu, passaria pela cabeças dos responsáveis dos principais partidos não ter ‘think-tanks’ a trabalhar com eles. As políticas públicas têm que ser formuladas com tempo e integradas numa estratégia política. E é na oposição que isto se faz, não é quando se está no governo
[e quando não se faz na oposição não há remédio se não fazê-lo no Governo]. E chegar ao poder sem se ter feito o trabalho de casa, é o caminho mais rápido para o fracasso. Na política, tal como na vida, não há milagres.


O segundo problema está na sociedade portuguesa. Se em muitos aspectos, somos uma sociedade europeia, há outros em que continuamos a resistir à “Europa”. Por exemplo, na nossa incapacidade em pensar de um modo sério e aprofundado os problemas políticos, económicos, e sociais do nosso país. E fazê-lo com outros europeus, que enfrentam os mesmos problemas. ... Enquanto não se pensar a sério em termos das políticas públicas adequadas, Portugal não sairá do ciclo negativo dos últimos dez anos. Há um duplo esforço a fazer: convencer os partidos políticos
[como? e com que resultados?] e aproveitar as vantagens de “estarmos na Europa”.

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