João Marques de Almeida diz no Diário Económico Portugal tem que pensar. Seria trivial afirmar isso mas, acontece que em Portugal, em muitas situações, o trivial de uns, nem é relevado como importante por muitos - e em muitos casos, nem é admitido por estes como sendo um problema. Daí a necessidade de afirmar, pedagogicamente, uma e outra vez, algumas coisas triviais, dando-lhe, de preferência, algum carácter operacional, de modo o discurso ter alguma eficácia. Este artigo faz bem em relembrar este problema consabido (por alguns) mas fica muito para dizer - mesmo as causas dele não ser equacionado, pelo menos, são diversas. Excertos do artigo (o bold é meu e faço comentáris entre parêntesis rectos):
"No nosso país, não se pensa politicamente. É óbvio que alguns, individualmente, pensam e bem. Mas pensar políticas de um modo sistemático e organizado, não se faz. Em Portugal, há duas escolas dominantes sobre o modo como se deve “pensar” a política. A escola ideológica, que substitui o pensamento pela ideologia, não sendo capaz de escapar ao dogmatismo. É um obstáculo a políticas reformistas, recorrendo a argumentos ideológicos, misturados com muito populismo e demagogia, para as travar. É a escola dominante na extrema-esquerda e em parte do PS. Do outro lado, está a escola anti-ideológica, que desvaloriza a actividade intelectual e recusa qualquer tipo de debate conceptual ou de ideias. Basicamente, acreditam que “aqueles que estão na política” (visto que o seu anti-intelectualismo vai ao extremo de negar as virtudes da condição do político) devem “governar” e “executar”, e não pensar. Aliás, o estado em que está o nosso país mostra que muitas vezes têm razão. É a escola dominante em grande parte do centro-direita português. ....
.... Ou Portugal muda (e têm que mudar todos; a culpa não é deste ou daquele, é de todos), ou vai continuar a afundar-se na cauda da Europa. Mas agora, com 27, a cauda está muito mais longe da cabeça. Não é uma opinião, é um facto. Tudo isto vem a propósito do mundo dos ‘think-tanks’ europeus. Para um português, é uma grande desilusão olhar para redes de ‘think-tanks’ europeias, e não encontrar um único representante português. Aqui falo mais das áreas das políticas públicas ... Mas Portugal, nada. O primeiro obstáculo tem a ver com a atitude dos partidos políticos em Portugal. De um lado, julga-se que a ideologia chega; do outro lado, desvaloriza-se o pensamento.
De um modo transversal, há um problema comum: pensar a sério dá muito trabalho. É preciso ler, e muitas vezes leituras que não estimulam, mas informam, é preciso persistência, é preciso humildade, para se continuar a ter vontade de aprender e é preciso paciência e determinação para educar, para formular políticas públicas e para convencer. Infelizmente, tudo isto escasseia em Portugal. Em nenhum país europeu, passaria pela cabeças dos responsáveis dos principais partidos não ter ‘think-tanks’ a trabalhar com eles. As políticas públicas têm que ser formuladas com tempo e integradas numa estratégia política. E é na oposição que isto se faz, não é quando se está no governo [e quando não se faz na oposição não há remédio se não fazê-lo no Governo]. E chegar ao poder sem se ter feito o trabalho de casa, é o caminho mais rápido para o fracasso. Na política, tal como na vida, não há milagres.
O segundo problema está na sociedade portuguesa. Se em muitos aspectos, somos uma sociedade europeia, há outros em que continuamos a resistir à “Europa”. Por exemplo, na nossa incapacidade em pensar de um modo sério e aprofundado os problemas políticos, económicos, e sociais do nosso país. E fazê-lo com outros europeus, que enfrentam os mesmos problemas. ... Enquanto não se pensar a sério em termos das políticas públicas adequadas, Portugal não sairá do ciclo negativo dos últimos dez anos. Há um duplo esforço a fazer: convencer os partidos políticos [como? e com que resultados?] e aproveitar as vantagens de “estarmos na Europa”.
"No nosso país, não se pensa politicamente. É óbvio que alguns, individualmente, pensam e bem. Mas pensar políticas de um modo sistemático e organizado, não se faz. Em Portugal, há duas escolas dominantes sobre o modo como se deve “pensar” a política. A escola ideológica, que substitui o pensamento pela ideologia, não sendo capaz de escapar ao dogmatismo. É um obstáculo a políticas reformistas, recorrendo a argumentos ideológicos, misturados com muito populismo e demagogia, para as travar. É a escola dominante na extrema-esquerda e em parte do PS. Do outro lado, está a escola anti-ideológica, que desvaloriza a actividade intelectual e recusa qualquer tipo de debate conceptual ou de ideias. Basicamente, acreditam que “aqueles que estão na política” (visto que o seu anti-intelectualismo vai ao extremo de negar as virtudes da condição do político) devem “governar” e “executar”, e não pensar. Aliás, o estado em que está o nosso país mostra que muitas vezes têm razão. É a escola dominante em grande parte do centro-direita português. ....
.... Ou Portugal muda (e têm que mudar todos; a culpa não é deste ou daquele, é de todos), ou vai continuar a afundar-se na cauda da Europa. Mas agora, com 27, a cauda está muito mais longe da cabeça. Não é uma opinião, é um facto. Tudo isto vem a propósito do mundo dos ‘think-tanks’ europeus. Para um português, é uma grande desilusão olhar para redes de ‘think-tanks’ europeias, e não encontrar um único representante português. Aqui falo mais das áreas das políticas públicas ... Mas Portugal, nada. O primeiro obstáculo tem a ver com a atitude dos partidos políticos em Portugal. De um lado, julga-se que a ideologia chega; do outro lado, desvaloriza-se o pensamento.
De um modo transversal, há um problema comum: pensar a sério dá muito trabalho. É preciso ler, e muitas vezes leituras que não estimulam, mas informam, é preciso persistência, é preciso humildade, para se continuar a ter vontade de aprender e é preciso paciência e determinação para educar, para formular políticas públicas e para convencer. Infelizmente, tudo isto escasseia em Portugal. Em nenhum país europeu, passaria pela cabeças dos responsáveis dos principais partidos não ter ‘think-tanks’ a trabalhar com eles. As políticas públicas têm que ser formuladas com tempo e integradas numa estratégia política. E é na oposição que isto se faz, não é quando se está no governo [e quando não se faz na oposição não há remédio se não fazê-lo no Governo]. E chegar ao poder sem se ter feito o trabalho de casa, é o caminho mais rápido para o fracasso. Na política, tal como na vida, não há milagres.
O segundo problema está na sociedade portuguesa. Se em muitos aspectos, somos uma sociedade europeia, há outros em que continuamos a resistir à “Europa”. Por exemplo, na nossa incapacidade em pensar de um modo sério e aprofundado os problemas políticos, económicos, e sociais do nosso país. E fazê-lo com outros europeus, que enfrentam os mesmos problemas. ... Enquanto não se pensar a sério em termos das políticas públicas adequadas, Portugal não sairá do ciclo negativo dos últimos dez anos. Há um duplo esforço a fazer: convencer os partidos políticos [como? e com que resultados?] e aproveitar as vantagens de “estarmos na Europa”.
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