No Diário Económico, dois artigos, com duas perspectivas diferentes sobre a China e sobre o seu impacto mundial: Arroz amargo e Conter a China.
O primeiro refere a conjuntura económica por que atravessa a China - o crescimento acentuado da inflação e as pressões sócio-económicas associadas; os constrangimentos que lhe são colocados pela diminuição da terra arável e alterações demográficas nos campos e as consequências que tudo isso coloca nos mercados de inputs e bens alimentares, a nível mundial.
O segundo defende a necessidade da actuação da China, no comércio mundial, ser disciplinada pelo respeito de regras mínimas no domínio do social e do meio ambiente, o que, a não suceder, poria em risco a abertura dos mercados e a globalização, pelas perturbações concorrencias que o peso do comércio chinês provoca, a nível mundial.
A justaposição dos dois artigos é interessante. O que o primeiro nos diz qualifica a mensagem de apreensão carreada pelo segundo. O crescimento económico chinês tem sido positivo para todo o mundo (ver aqui), mesmo que, tendo trazido uma concorrência acrescida e desproporcionada para dados segmentos de actividade em algumas indústrias tradicionais, em alguns países - e.g., o têxtil de menor valor acrescentado, em Portugal. Trouxe milhões de novos consumidores ao mercado mundial; reforçou a procura mundial de inputs produtivos e, o facto, de ter conseguido tirar da pobreza absoluta parte significativa da população chinesa, é um bem inestimável - uma China mais rica e menos pobre, tem implicações muito positivas para a segurança mundial. Mesmo a tensão que esse crescimento tem provocado (e que irá continuar a provocar) nos mercados mundiais de inputs e de bens alimentares, é positiva porque está a antecipar problemas que, em qualquer dos casos, iriam eclodir mais cedo ou mais tarde (ver aqui) - assim, esses problemas terão de ser confrontados tempestivamente e, possivelmente, num quadro muito mais favorável.
Quanto à dimensão do stress provocado pela concorrência chinesa nos mercados mundiais, ela tem de ser qualificada (ver aqui, aqui, aqui,) - mesmo quando potenciada por sub-padrões de trabalho e de normas ambientais - e, em qualquer caso, o próprio crescimento chinês e o seu impacto no comércio mundial, precipita a ocorrência de fenómenos correctores que limitarão a sua manutenção ao nível actual, no futuro (ver aqui, aqui): - o crescimento dos preços chineses, e o seu impacto na competitividade; a qualidade do output chinês (nalguns casos, pelo menos: o segundo artigo refere um caso) (ver aqui); a escassez de mão de obra qualificada e comportamento do mercado do trabalho (ver aqui); o custo crescente do aumento da poluição, dos problemas ambientais e dos problemas de saúde e sociais concomitantes (ver aqui, aqui).
O principal mecanismo de transmissão dos perigos que a situação social e ambiental na China (os seus sub-padrões sociais e ambientais) acarreta ao resto do mundo, não é o comércio internacional na parte que diz respeito à sua oferta produtiva, às suas exportações. É o efeito sobre o clima global, através da emissão de gases de estufa e da sua poluição (ver aqui, aqui); são as pressões sobre os equilíbrios macroeconómicos mundiais decorrentes das suas políticas económicas, e as implicações, potencialmente destabilizadoras, em termos de segurança internacional, das consequências futuras de uma resposta local, menos adequada, aos seus problemas sociais, ambientais, e políticos - necessidade da manutenção do aumento do emprego; reforço do sistema de segurança social e de saúde e combate à desigualdade (ver aqui). Todas os ganhos chineses continuam a ser contestáveis, e regredíveis, face à dimensão e evolução dinâmica destes problemas. A China não tem de ser contida (por motivos proteccionistas); tem é de ser influenciada no sentido de dar resposta aos seus problemas internos, pelo seu próprio bem e o nosso - queremos uma China, rica, segura, estável, que produza de modo o mais eficiente possível, e exporte e importe muito (ver aqui).
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