Ainda a-propósito do relatório da Mckinsey (ver aqui) - de que tem, aliás, uma opinião crítica - Miguel Castro Coelho, no DiarioEconomico.com, em Ingredientes da Educação, discute a problemática da influência da qualidade dos professores nos resultados dos alunos, e aquilo que os melhores sistemas de ensino fazem para assegurar aquela qualidade. A parte final do artigo:
"Dessas conclusões, interessa-me aqui destacar duas mensagens fundamentais:
- A primeira faz eco do que mais se tem ouvido ultimamente pelos corredores do Ministério da Educação Inglês: ‘teachers matter’. Por muito trivial que a mensagem possa parecer, a verdade é que só há bem pouco tempo se confirmou analiticamente a influência da qualidade dos professores nos resultados dos alunos. O senso comum há muito que apontava para isso, mas só nos últimos três anos surgiu a confirmação empírica e com ela estimativas da magnitude dessa influência.
- Precisamente porque a qualidade dos professores conta, os tais sistemas de educação de referência desmultiplicam-se em esforços para assegurar que as pessoas mais capazes ocupem essas funções. Começam por reservar o acesso aos cursos de formação de professores para candidatos com curriculum universitário de topo e capacidade de relacionamento interpessoal, comunicação, vontade de aprender e ensinar, excepcionais. Só estes têm oportunidade de fazer formação específica que, se for feita com aproveitamento, lhes dará acesso à profissão.
- Uma vez no exercício da profissão, o acompanhamento e a formação in loco é constante, sobretudo numa fase inicial. A capacidade de afastar as pessoas que venham a revelar pouca apetência para o cargo também é garantida, num claro reconhecimento humilde de que o sistema de selecção, apesar de tudo, não é perfeito. Se se juntar a isto uma remuneração inicial em linha com o que pessoas de formação equivalente auferem no resto da economia (’good but not great’ para usar os termos do relatório) obtêm-se, ao que parece, sistemas em que ser professor não é apenas opção para os que têm poucas outras opções.
- A segunda mensagem importante a reter é a de que o sucesso de um sistema de ensino depende da sua capacidade de produzir impacto sobre todos os alunos. Como os alunos – e sobretudo as famílias dos alunos – não são todos iguais, há que incorporar no sistema de ensino medidas de discriminação positiva de escolas e alunos para os quais o contexto socio-económico seja um fardo significativo. Essas medidas fazem reflectir no desenho do sistema aquilo que é o princípio mais forte entre tudo o que se sabe sobre educação: o “sangue” do aluno, é a principal influência sobre o seu in(sucesso).
- Para pôr estas medidas de discriminação positiva em prática, e para avaliar a qualidade de professores e escolas é necessário usar um modelo analítico que integre informação detalhada sobre o nível socio-económico dos alunos, a sua performance escolar, e a identidade dos respectivos professores. É por isso que não posso deixar de concluir que os juízos de valor que se fazem em Portugal todos os anos sobre a qualidade das escolas com base em ‘rankings’ “crus” de médias de notas (sempre com reparos comparativos entre público vs. privado) são simplesmente absurdos."
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