28 de março de 2008

Educação em Portugal (XII)

Mais tomadas de posição sobre o que se passa na educação em Portugal, de colunistas do Diário Económico. Transcrevo-as em parte - são importantes porque revelam um certo estado de espírito da população em geral quanto às guerras na educação (razão tinha o Pacheco Pereira em dizer que a população se posiciona de forma diferente em relação às reformas na saúde e na educação).



A primeira é de Jorge Araújo - transcrevo também um comentário de um professor ao artigo (termina afirmando que os seus alunos são excelentes - não tenho dúvidas é que é também um professor excelente) ; a segunda é um editorial de Bruno Proença.




À atenção das escolas







"... No seu livro “Textos para Educação”, o psicólogo Eduardo Sá diz-nos que “educar é incrementar a autenticidade, em vez da falsidade.” “Nunca se educa à margem da verdade.” “É bom que as crianças sintam que, quando alguém não gosta do que fazem, é de supor que lhes mostrem que podem fazer melhor.” “As crianças precisam sentir que os sentimentos maus ou os insucessos, são naturais como a sede e fazem bem à saúde.”Será que no meio da luta em curso, preocupações como estas estarão a ser motivo da devida preocupação de escolas, professores e governo?





"...O mesmo autor, atrás referido, acrescenta que “gostava que a Escola se transformasse num lugar que estimule as incertezas e incentive à dúvida, que reabilite a criatividade e a ousadia de pensar, que ensine a cumplicidade e, com humanidade, promova a esperança.” Será que é assim que as nossas Escolas estão neste momento a proceder?“Uma escola que aceite que, atrás de cada aluno difícil, está um professor em dificuldades e que diante de uma criança distraída, está uma família desatenta.”




"Famílias desatentas, uma escola nem sempre potenciadora de jovens preparados para as dificuldades de um futuro cada vez mais complexo e exigente, professores zangados com os governantes e estes nitidamente desfocados do que deveria ser a sua maior preocupação. Convenhamos, estamos perante uma mistura demasiado preocupante!"





"... Quem os vai incentivar a prepararem-se todos os dias com prazer e de forma disciplinada e consciente?A educação obriga a um treino diário, assente em situações problema que suscitem por um lado, a reflexão necessária e, pelo outro, o retorno de informação de pais e professores, positivo ou negativo consoante as circunstâncias, mas sempre orientado no sentido de potenciar que os nossos jovens melhorem continuamente, a caminho da excelência. O que exige concentração, acompanhamento e preparação prévias pouco consonantes com lutas como aquelas que se travam semana a semana.Sem invalidar as razões e os direitos que cada uma das partes deve defender do modo mais empenhado e democrático possível, é fundamental que ninguém esqueça as respectivas responsabilidades em todo este processo."




Comentário de um professor ao artigo anterior






"Excelente artigo, uma lufada de ar fresco na histeria quase colectiva recente que até o PGR contagiou. Isso as vozes ultra nervosas que advogam a proibição dos telemóveis em vez de ensinarem a utilizar o botão de silêncio. Outros que gritam que a aluna agrediu quando isso é mentira. Bom, vamos ao que interessa. Um Professor consciente pela reflexão aqui enunciada e com o objectivo total da excelência pode aproveitar para estudarem os sistemas operativos dos telemóveis(TCI), a matemática euclidiana subjacente(MAT), os diversos modelos de negócio(Economia), a ajuda que os telemóveis dão nos países pobres(Geografia), as palavras como reset, puk ou pin (Inglês), os ringtones (ed. musical), o efeito apelativo dos ecrãs (Ed. Visual), quanto tempo demora um telem. a captar uma imagem (3 metros por nanosegundo) para a Física e em Filosofia a capacidade do ser humano em transformar problemas em oportunidades. Seria excelente para os alunos, Professores, pais, mães tias e avós. Seria excelente, mas por enquanto o País está numa do par de estalos e das proibições. Está numa de soluções dos medíocres, em vez de ir estudar quem sabe sobre o assunto. Felizmente, os meus alunos de tecnologias aqui nos subúrbios são interessados/as, muito bem educados, divertidos e já sabem o que é a velocidade da luz. São excelentes! MMartins-Sintra."






Sem educação






"...Está a discutir-se o acessório e a esquecer-se a substância....Num país sem riquezas naturais, terá de ser a qualidade das gentes a fazer a diferença. Ou seja, a formação – cívica, académica, profissional – é um factor determinante de sucesso. Portanto, pede-se particular responsabilidade a todos na discussão pública."




"O sistema de educação nacional é mau e não é por falta de recursos. As estatísticas da OCDE mostram que Portugal gasta como um país desenvolvido mas tem resultados do terceiro mundo. Nos ‘rankings’ internacionais, os alunos aparecem em média nas últimas posições em línguas, matemática e ciências. Aqui reside uma das causas do baixo desenvolvimento do país. As últimas semanas mostram que as dificuldades estão longe de estar superadas. A manifestação revelou que a maioria dos professores está de costas voltadas para a sua profissão. Ninguém os viu reclamar melhores condições para dar aulas ou para dignificar a sua posição social. Estiveram apenas preocupados em manter situações de excepção. Nos dias que correm tudo é avaliado – é a única forma de premiar os melhores e penalizar os maus."




"Mas o caso de agressão é pior. ... Estes casos resultam de vários factores que se acumularam nos últimos anos: desde a demissão dos pais de parte do seu papel, até às novas teorias pedagógicas que associam o ensino à brincadeira, esquecendo-se que ninguém aprende sem estudo, trabalho e esforço. A isto junta-se o enfraquecimento das relações hierárquicas nas escolas. Que não haja dúvidas: os professores ensinam e impõem as regras e os alunos aprendem e cumprem. A forma como o sistema de Educação vai resolver este caso será importante."




"Qualquer solução que não seja um sinal claro de que se quer acabar de vez com estas situações é mais um prego no caixão do ensino público. Um pai quer os filhos longe de escolas que são sinónimo de balbúrdia. E quem pode vai preferir o ensino privado de qualidade, onde as condições são outras – apesar de também existirem problemas. Ou seja, vão agravar-se as desigualdades na sociedade portuguesa e promover-se uma realidade dual. ... É o fim da mobilidade social que a escola também deve garantir e sem o qual a sociedade portuguesa apodrecerá."

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