Era previsto isso acontecer. A entrada da China no mercado global, com todos os seus efeitos disruptores devido à sua dimensão (demográfica), daria lugar, mais cedo ou mais tarde, a processos de ajustamento que atenuariam esses efeitos. O mecanismo é conhecido e ocorreu noutras situações: o crescimento económico forte, determinado pelas exportações (questão discutida é a importância do mercado interno chinês na sustentação da procura) induziria, a prazo: por um lado, o esgotamento da dotação de mão de obra barata; por outro, o crescimento da produtividade - os dois efeitos combinados ir-se-iam traduzir em salários mais elevados, aprofundamento do mercado interno, mudança do perfil de especialização produtiva e do perfil das suas vantagens competitivas, etc.
O que não era previsto acontecer (que eu saiba) é que esse ajustamento ocorresse tão depressa, como os factos referidos neste artigo na Slate Magazine, Is the era of cheap Chinese products over? parecem sugerir - em parte, porque aquele mecanismo está também a actuar nos mercados mundiais dos outros recursos e inputs produtivos. A lição a tirar é que a China continua com potencial muito elevado para nos surpreender (pela positiva e pela negativa) - donde, seguindo um conselho de um economista famoso, Schumpeter, se tiverem que alvitrar uma opinião sobre o que lhe irá suceder, nunca fiquem só por uma previsão.
Um excerto do artigo:"But now a perfect storm has hit China's manufacturers. So far this year, the renminbi has been appreciating at a 16 percent annualized rate. And prices for raw materials, which account for 60 percent to 70 percent of manufacturers' costs, are soaring. Hundred-dollar-a-barrel oil has raised transport costs and the price of oil-related materials such as plastics. Although some economists expect raw material prices to weaken in the second half of this year, in the long term, the emergence of millions of new car drivers, home buyers, and office workers in India and China will keep the price of steel, plastic, and other raw materials high.
At the same time, China is rolling out wage increases around the country and tightening its labor laws. Wages are rising at double-digit rates in coastal China. In January, Beijing introduced a new labor law that significantly strengthened the influence of the union in management decisions. The All-China Federation of Trade Unions, the country's state-backed labor organization, has launched an aggressive recruiting campaign. Beijing hopes that better protection for workers through the union and the new labor law will placate its increasingly restive manufacturing workforce. But a tidal shift in the country's demographics—a dwindling supply of young workers as a result of the "one child" policy in effect since 1979—will counteract Beijing's efforts."
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