Afinal, será que a história acabará por dar razão a Malthus? É conhecida a tese de Malthus do crescimento da população tender, historicamente, a ultrapassar o crescimento dos bens alimentares, dando lugar a alterações que corrigem, de modo drástico esse desiquilíbrio - guerras, fomes, epidemias. Segundo alguns, Malthus limitou-se a constatar características que tinham definido o comportamento demográfico das sociedades humanas até então, não tendo feito previsões para o futuro. Se não as fez, outros fizeram-no, no preciso momento que eclodia a Revolução Industrial, que tornou essa previsão numa das mais espectacularmente erradas de sempre. Armados dessa lição os economistas têm-se mostrado sempre cépticos às teses neo-malthusianos que tem aparecido, de vez em quando, e esse cepticismo tem mostrado bom fundamento - face à escassez de um dado recurso (medida pelo aumento do seu preço no seu mercado) a economia tem sido levada (incentivada) a descobrir alternativas, assentes, nomeadamente, na investigação científica.
No entanto, mais recentemente, devido a diversos factores - o crescimento das economias emergentes; os receios da ocorrência do pico de produção do petróleo e o recurso aos bio-combustíveis... - traduzidos numa procura em crescendo de todo o tipo de recursos - alimentares, minerais, etc. - reavivaram-se os receios de se estar face à iminência de cenários malthusianos à escala planetária. A rapidez e a intensidade dos efeitos que induziriam o aparecimento desses cenários impossibilitariam o funcionamento, em tempo, daquele outro mecanismo de ajustamento (o assegurado pelos mercados) - facto esse, agravado pelo facto do preço formado no mercado, de um dado recurso, em muitos casos, não medir, não reflectir, de modo adequado o seu nível de escassez efectivo. Acresce a tudo isto, a possibilidade destas evoluções acarretarem mudanças de fase ("tipping points") dando lugar a cenários de não retorno à normalidade que conhecemos. Naturalmente, as evoluções determinando a possibilidade de um mundo malthusiano, são aquelas que reforçam o aquecimento global.
As ligações desta nota apontam para artigos e apontamentos sobre esta questão. Este New limits to Growth Revive Malthusian Fears, no Wall Street Journal, é muito interessante e completo (a figura acima foi retirada dele). O seguinte Carnegie Mellon Economist Says Oil Prices Aren't High Enough refere a posição de um economista que defende estar o preço do petróleo ainda baixo (nos EUA) e, finalmente, um apontamento do blogue Free Exchange do The Economist, The return of Malthus, discute os aspectos económicos desta questão.
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