Sou a favor das quotas para a participação das mulheres na política. Isso tem dado lugar a discussões (homéricas) com alguns dos meus amigos, economistas como eu, e mesmo com mulheres - estas são, em regra, bem-sucedidas em termos profissionais.
A argumentação contrária é conhecida: dando tempo ao tempo, o sucesso feminino em termos educativos irá traduzir-se, na mesma proporção, no domínio político. Que o tempo resolve tudo, não tenho dúvida, mas que esse tempo, por vezes, é muito tempo, isso é inegável - os esclavagistas norte-americanos, em meados do século XIX, afirmavam também que a escravatura desapareceria por si (seria necessário tão-somente cerca de 100 anos). A posição contrária das profissionais bem-sucedidas compreende-se: extrapolam a sua experiência para o domínio da política ou, então, receiam a acusação de favorecerem um nepotismo de género, e o efeito reflexo (depreciador) que isso pode ter no ajuizar (pela sociedade) do seu próprio sucesso.
Esquecem os oponentes das quotas da especificidade do poder - o poder é diferente; o poder enquista-se em redes de influência; o poder não prescinde do poder a não ser que as regras o obriguem (e.g., o sistema democrático); o poder, quando não democrático, dá lugar às revoluções.
Donde as quotas são necessárias, pelo menos numa primeira fase, para desbloquear o acesso das mulheres à actividade política e, na fase seguinte, possibilitando a criação da massa crítica, a testa-de-ponte que possibilite a auto-perpetuação dessa participação. Há ainda outra alternativa às quotas: quando um dirigente com poder partidário incontestado se vira para aí (caso de Zapatero ou, mais próximo, o caso de Carlos César - (iremos ver, com curiosidade, no caso do PS Açores, se a experiência permanece após a sucessão)).
Em todo o caso parece que as quotas de género têm consequências positivas, além do domínio do político - as consequências positivas a que me refiro vão para além do valor intrínseco social associado à maior participação das mulheres: são consequências operacionais, ligadas à eficácia e eficiência das organizações. Vejam aqui, em Directorial debuts, do Comment is free (The Guardian), a actuação da Noruega quanto à participação das mulheres nos conselhos de administração das empresas - mas, de novo, é verdade, estamos a falar do exercício de poder. Excertos (é a quase totalidade do artigo):
"Since the beginning of the year, the boards of Norwegian public limited companies have had to be 40% female. If they don't comply, the state will shut them down. Sound like a crazy idea? Well, it has worked. Norwegian company boards now have the highest number of female directors anywhere in the world.
... Former businessman Ansgar Gabrielsen, 52, was a Conservative trade and industry minister when he announced the law in 2002. "I could not see why, after 25 years of having an equal ratio of women and men in universities and having so many educated women with experience, there were so few of them on boards," he told me."The law was not about getting equality between the sexes; it was about the fact that diversity is a value in itself, that it creates wealth. From my time in the business world, I saw how board members were picked: they come from the same small circle of people. They go hunting and fishing together, they are buddies."Today many directors I've spoken to say boards have become more competent. Board recruiters have been forced to look beyond their immediate circles of friends and colleagues. The pool of candidates has widened, so you have more chances of getting good directors. And since you have people with more diverse backgrounds, you have a multiplicity of opinions and approaches at board meetings, which leads to better decision-making. The law has focused people's minds on diversity. Instead of endless talking-shops about breaking the glass ceiling, people have had to think practically about how to have more women in top executive positions.It has given rise to other initiatives too.
In the UK, only 11% of directors of FTSE 100 firms were female in 2007. How long do we have to wait until the generations of experienced women that have been working in business for decades get to these positions? The debate often focuses on what women should do more to get the seats: they should get more experience; they should spend more time at work; they should cultivate more networks.Aside from the fact that that women are already doing that, this argument is focusing on the wrong group of people. The debate should be about board recruiters. Why do they pick only men? Change doesn't happen naturally. It always needs to be provoked with bold initiatives. They are always decried at the beginning, and then they are taken for granted..."
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