4 de outubro de 2009

Ainda sobre a actuação de Cavaco e coisas afins

Todos já disseram (quase) tudo: veja-se, por exemplo, os comentários no Expresso desta semana. O Ricardo Costa lembra que Cavaco é um político acima de tudo, o que sublinharia, numa primeira leitura, concluo eu, a estranheza  do desastre da comunicação ao País (não aceito a tese da fragilidade da Casa Civil do Presidente). Pois, mas  tudo aquilo não foi irreflectido, não foi ímpeto irracional:  a meu ver, saiu assim, de modo exacto, de modo deliberado. O que é mais provável é que se tratou de salvar o essencial, de fazer o controlo do prejuízo, afastando a atenção do seu  pecado mortal: (citando Daniel Oliveira com uma qualificação): " [...] o Presidente foi apanhado num golpe de manipulação pública em vésperas de eleições e, tendo perdido o controlo da situação, é agora comandado pelo seu desespero ... [a qualificação: é pouco provável que tenha sido comandado pelo desespero, mas sim, a contrario, por uma vontade fria e controlada de responder a uma situação política, essa sim, descontrolada e desesperada]. Em dadas situações, no limite, é necessário fazer um disparate para desviar a atenção de algo muito mais grave, ou se preferirem, de um disparate muito maior.

Sobre as implicações quanto às próximas presidenciais (cujo resultado não é definitivo porque - alguém já o disse - as pessoas podem esquecer, e o imprevisto, o impensado, podem ocorrer) duas referências: o do gráfico a seguir e o artigo de António Correia de Campos:






  • O interesse público Económico António Correia de Campos Não. Não vou escrever sobre a comunicação ao país do Presidente da República. Virar a página e seguir em frente. Há muito trabalho a fazer. A única coisa de útil na crise destas duas semanas foi a antecipação das candidaturas a Belém. Parece irremediável. De Cavaco chegaram sinais de desfocagem, de Alegre chegaram atitudes de sobranceiro desinteresse pelo lugar. Se assim não fosse, teríamos este último mais presente na campanha, pelo menos na descida do Chiado, uma espécie de ajuntamento da "arraia miúda" lisboeta dos tempos modernos. Deixou o seu lugar vazio aí e no comício final. Os seus camaradas dificilmente lhe perdoarão e já deitam olhares à volta. O sólido Gama, o solidário Ferro, até um regresso de Sampaio é equacionado. A sensação de todos necessitarmos de uma alternativa e quanto mais depressa sobre ela se fizer consenso, melhor será, em tempos de instabilidade desnecessariamente acrescida.



A finalizar, alguém deveria dizer ao Pacheco Pereira que, agora mais do que nunca poucos acreditam que a fabricação dos casos seja da responsabilidade exclusiva do PS, ou que a esmagadora maioria desses casos lhe possa ser imputada, e, de toda a maneira, importaria contabilizar como "casos" todos os que foram ocorrendo ao longo destes últimas anos, e não só aqueles que ele releva como tais - aliás, o modo como distribui responsabilidades quanto à forma como decorreu a campanha eleitoral é de uma inaudita desonestidade intelectual.
  • ABRUPTO Coisas da Sábado: A Fábrica de Casos

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