Se eu fosse pai de um dos alunos do Colégio Militar, que foram indiciados pelo Ministério Público por actuação incorrecta em relação a alunos mais novos, eu colocaria aquela instituição em Tribunal por grave negligência em criar as condições para que os seus alunos fossem educados de modo adequado - e ao dizê-lo não estou a esquecer de que se trata de uma instituição militar. Aliás, por isso mesmo, talvez conviesse enfatizar que a falta consiste, mais precisamente, na negligência de educar militarmente os alunos do modo mais adequado.
Para não haver dúvidas do contexto em que falo: sendo sempre de esquerda, nunca fui anti-militarista; cumpri o serviço militar sem qualquer problema; até fui louvado a nível do então sector do Uige; e compreendo a lógica e o interesse de uma escola militar onde se ensine, além de tudo o mais, todas aquelas qualidades que um bom militar se preza. Nessas qualidades - para não haver dúvidas sobre onde me posiciono - está a disciplina, o saber obedecer, e ainda capacidade de nos ultrapassarmos, física e psicologicamente, de suportar níveis superiores de stress. Ah, por último e não menos importante, o ensino e a prática do bem comandar. E aí bate o ponto: ensinar a comandar implica sublinhar a importância do exercício da autoridade e do exemplo, e criar condições para que a inteligência emocional e a empatia se desenvolvam nos alunos, entronsando-se com aquelas outras qualidades - claro que terá de haver por parte da instituição a despistagem de quem não tem essas qualidades, mais que não seja porque é perigoso para os alunos subordinados mais novos.
Isto não é treta lamechas. Isto é sustentado do ponto de vista científico e é demonstrado pela história militar. Os grandes chefes militares caracterizaram-se por terem aquelas qualidades; os chefes militares incompetentes eram eunucos emocionais, autocráticos imbecis, e em muitos casos sádicos presumidos (vejam a indicação de leitura ao fim).
O que se passa no Colégio Militar - e eu sei que se passa por testemunho em segunda mão - é mau, e se muita gente boa sai de lá incólume, é porque à partida são muito fortes, e porque, em qualquer caso conseguiram tirar o máximo de um ambiente que, apesar de tudo, deverá ter, ainda assim, algumas virtudes.
Educar, como o Colégio Militar pretende educar, é muitissimo exigente. É manifesto que não existe competência por parte dos militares que tem estado à frente da instituição para cumprir essa missão ao nível de exigência necessário.
Como sugestão de leitura a este propósito: "A Psicologia da Incompetência [e da competência] dos Militares", Norman F. Dixon, Publicações Dom Quixote, 1977
Sem comentários:
Enviar um comentário