Em troca de impressões com um amigo meu, questionávamos as razões para o percurso histórico menos satisfatório do nosso país. Podem escrever-se tratados sobre isso. Não tenho essa pretensão: mais que não seja, porque eu procuro sempre ter uma ideia, mais ou menos actualizada do que efectivamente não sei, e , porque, tudo o que diz respeito à sociologia e à história (e só depois, à economia) são os fenómenos mais complexos que há [não é a física, a cosmologia, todas as ciências "duras", aquelas que têm um domínio mais complexo de estudo; o que elas têm, isso sim, é o instrumental mais difícil de utilizar - outros já o tem dito]. Por isso, vou coleccionando histórias, pequenas amostras, que se adequadas, se representativas, e se devidamente interpretadas, delas poderemos inferir, ou melhor, intuir, o que se passa ao largo.
Ora, uma dessas histórias pertence ao "departamento" do "há mais vida para além..." [ver a anterior nota para outro exemplo]. Isto surge na confluência daquela troca de impressões, daquilo que o meu amigo me contou sobre a filha, investigadora de craveira internacional [entrevistada há alguns anos pelo Expresso, onde dava conta do esforço e da disciplina necessárias para chegar onde chegou], e daquilo que a minha filha me contou anteontem. A minha filha estuda a sério; frequenta a biblioteca da faculdade onde está, diariamente (hoje, é domingo, e lá está) e tem-no feito, ao longo de todo o semestre - eu gosto disso, e incentivo-a a que o faça. Acontece - e aqui a história - que constatou, com espanto, o seguinte: uma sua colega, excelente moça (Portugal caracteriza-se por ter excelente pessoal), começou, inesperadamente, na altura dos testes, a frequentar a biblioteca, e a estudar de modo mais sistemático. E não é que a mãe alertou a filha, preocupada, face a essa mudança de comportamento: "Toma atenção, que há mais vida para além da Universidade".
Na minha adolescência, porque li sempre muito, houve sempre "um espectro a ameaçar-me:" o do "esgotamento cerebral" - era uma tema recorrente no meio familiar e entre os amigos e conhecidos. Uma parte significativa dos pais portugueses ainda tem medo disso, ou joga com isso, ou isso insere-se num quadro amplo de má percepção das razões da importância da formação escolar: aqui, um dos motivos (não o único, claro) do sistema educativo não conseguir "levar a carta a Garcia". Ou dito doutra forma, em jeito de epigrama, uma das razões do mal português tem a ver com o "departamento" do "há vida para além ... ".
Sempre preocupei-me com aquilo que o sistema político, e os seus agentes, poderiam fazer para alterar as percepções da população sobre a importância da educação. Escrevi sobre isso, aquando dos encontros da "nova autonomia", em 1996, antes da ascensão do PS na RAA. Reli o documento hoje: isso tem alguma piada, a esta distância - ver em que se mantém actual, ou ultrapassado. Vou reproduzi-lo nas próximas notas.
Sempre preocupei-me com aquilo que o sistema político, e os seus agentes, poderiam fazer para alterar as percepções da população sobre a importância da educação. Escrevi sobre isso, aquando dos encontros da "nova autonomia", em 1996, antes da ascensão do PS na RAA. Reli o documento hoje: isso tem alguma piada, a esta distância - ver em que se mantém actual, ou ultrapassado. Vou reproduzi-lo nas próximas notas.
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