8 de fevereiro de 2010

O momento português (e autonómico) (II)

  • Intervalo lúcido | António Correia de Campos| Económico: "Claro que já conhecíamos uma ‘vulgata' de argumentos do tipo: a solução para o défice e a dívida é mais despesa social e melhores salários;[...]  À medida que se agudizam as contradições do nosso pequeno mundo, quando chegamos ao fim de um modelo económico, sem termos ainda os projectos do novo, tendem a surgir novos desconchavos: os líderes esquerdistas, perdidos na demagogia, que acusam o Governo de despesismo e votam a favor de mais dinheiro para a Madeira; os que passaram a vida a criticar o Governo pela alta velocidade, aeroporto e auto-estradas e, salvo raras excepções, não têm uma palavra sobre o desbragamento despesista do dirigente madeirense; os que acham que Jardim é gastador compulsivo, mas entendem que se deve fechar os olhos a mais cinquenta milhões a crescerem anualmente, sobre uma dívida acumulada de 1200 milhões; [...] A doença não escolhe partidos nem ideologias. Também grassa entre os meus amigos: os que, dada a ordem para negociar, acham que tudo é negociável, sem limites de coerência nem decência; ou os que descobrem prazer em temas laterais obtusos, como o ‘strip-tease' fiscal. Perante crescentes sinais de insanidade, sabe bem encontrar quem se não encante com cânticos de sereia e resista à incoerência e ao disparate. Mesmo quando vindos dos que devendo defender o Estado, arrasam a sua reputação, protegendo despesismos recorrentes com o falso argumento de que se trata de migalhas. Não será possível prolongar o intervalo lúcido que nos trouxe, ao menos, a esperança de um orçamento? "
  • Liberdade de imprensa | Económico: "É do interesse de Sócrates esclarecer o assunto e as suspeitas suscitadas pela transcrição de escutas que, não tendo relevância criminal, têm relevância política. Porque pior do que o seu silêncio é a ideia de que os visados (e os escutados propriamente dito) não têm outras explicações para além das que resultam da leitura de frases e palavras soltas, sem o seu contexto, transcritas num despacho judicial e na sua publicação. As pressões sobre jornais e jornalistas por parte do poder político e do poder económico sempre existiram, não são de hoje, não nasceram com José Sócrates, e vão continuar quando o actual primeiro-ministro deixar as suas funções. E os exemplos, na história recente de Portugal, são vários e em diversos órgãos de comunicação social. Cabe, por isso, aos jornais e jornalistas, aos órgãos de comunicação social salvaguardarem a sua independência, isto é, a autonomia para seguirem a linha editorial que entenderem por decisão própria e sem interferências e ingerências externas. Ora, José Sócrates tem, objectivamente, razões de queixa da comunicação social. Foi, é, o primeiro-ministro mais atacado e mais pressionado pelos media - às vezes por responsabilidade própria, por actos e omissões - mas esse é um risco que vem agarrado à função que desempenha. Tem de existir uma avaliação pública dos actos dos governos, de todos, e é sempre preferível um erro com liberdade de imprensa a qualquer forma de censura. A forma como o primeiro-ministro geriu, ao longo de mais de cinco anos, essa relação foi, é, também única. Sócrates tem agora, pelas piores razões, isto é, a divulgação de escutas, uma boa oportunidade para esclarecer de uma vez por todas o seu posicionamento em relação à comunicação social, sob pena de ficar para a história pelo que quis fazer e não pelo que fez." 

Sem comentários: