Um antigo gestor da Intel dizia que nos fazia sempre falta um bocado de paranóia. Ora, acontece que por vezes conhecemos os avisos, estamos de acordo, intelectualmente, com eles, mas não somos capazes de os interiorizar - eu, que o diga. Além de ser necessário um bocado de paranóia, ela tem de ser aplicada com inteligência - temos de escolher bem os nossos inimigos. Aí residem as minhas perplexidades com Sócrates.
A minha primeira perplexidade - perplexidade, digamos, de método - é: então, não sabia ele que estava a ser marcado passo a passo, e que não podia ter deslizes; que tinha de se resguardar; que neste país continua a não se poder falar, livremente, nem com os amigos, nem com a mãezinha, ao telefone. Sócrates se queria fazer coisas, das que são feitas pela calada [abaixo comento isso], não deveria utilizar o telemóvel, e ter cuidado com as coisas ditas em espaços públicos: tão simples como isso!
Mas, por outro lado, sobrou-lhe o sentimento no que respeita à comunicação social: - ora, ninguém desta poderia ter sido promovida a inimiga oficial do PM, independentemente, do nível de correcção, de verdade, de adequação intelectual, da honestidade, das pessoas em causa. Do ponto de vista de estratégia e táctica política, ninguém, nem mesmo aquela senhora da TVI - isso foi uma tontice [e sê-lo-ia mesmo no caso impensável que estivesse a denunciar faltas efectivas de Sócrates]. O PM, como político, não tem direito a estados de alma - pode utilizá-los só na medida em que eles estão estritamente instrumentalizados à prossecução de objectivos (políticos) bem pensados - não foi esse o caso, e se foi, é inconcebível o erro. A comunicação social que temos é, como muitas coisas, um dado do contexto, insusceptível de ser alterado no curto e médio prazo, e particularmente, recorrendo a meios que, muito correctamente, são assacadas, (ou deveriam sê-lo), pela esquerda democrática ao grande perigo que ameaça o sector - a saber, a sua captura pelos interesses corporativos e económicos, que privilegiam os sectores políticos que defendam a sua agenda. Se o PM acredita que é isso que está a acontecer, não conduziu o combate da melhor maneira, ou então, na ausência de armas e de exército (o partido: "o novo príncipe"; o trabalho político com os cidadãos; o trabalho político a longo prazo) deveria ter-se remetido, ao nível desse sector, à defensiva, e aguentar-se - aguentar estoicamente, e estar sempre à alerta, faz parte dos requisitos do ofício.
Sócrates não actuou bem a nível da condução política (e pessoal) do seu relacionamento com a comunicação social.
No entretanto, e por demais, se fez o que os outros afirmam que fez (para mim não está [ainda] adquirido que isso tenha acontecido - veja-se as notas da Causa Nossa abaixo) esteve mal ao nível do que deveria ser o perfil de actuação de um político da esquerda democrática. Os erros dos outros - estou convencido nesse particular que a matéria é, no mínimo, tão séria como a de que o PM é acusado - não autorizam e justificam os nossos. Isso é uma questão de inteligência e de ética, o que significa que a má prática, mesmo que ignorada, é inadmissível - tem sempre efeitos subliminares que se ramificam e potenciam. Já o disse: o confronto pelo poder dentro do PSD, alimentado pelo perigo sentido por alguns de uma sua possível irrelevância futura, produziu miasmas e externalidades negativas sobre a democracia portuguesa - tudo aquilo que tem sido visto nos últimos anos criou em muitos a sensação do jogo estar viciado, de ausência de "fair play", e de se estar a tentar, desesperadamente, ganhá-lo na secretaria. O preço que a democracia portuguesa irá pagar ainda disso, ver-se-á. Mas, mesmo aceitando isso, nada justifica o resto, e esse resto começa a azedar.
Abaixo, algumas leituras sobre o momento:
A minha primeira perplexidade - perplexidade, digamos, de método - é: então, não sabia ele que estava a ser marcado passo a passo, e que não podia ter deslizes; que tinha de se resguardar; que neste país continua a não se poder falar, livremente, nem com os amigos, nem com a mãezinha, ao telefone. Sócrates se queria fazer coisas, das que são feitas pela calada [abaixo comento isso], não deveria utilizar o telemóvel, e ter cuidado com as coisas ditas em espaços públicos: tão simples como isso!
Mas, por outro lado, sobrou-lhe o sentimento no que respeita à comunicação social: - ora, ninguém desta poderia ter sido promovida a inimiga oficial do PM, independentemente, do nível de correcção, de verdade, de adequação intelectual, da honestidade, das pessoas em causa. Do ponto de vista de estratégia e táctica política, ninguém, nem mesmo aquela senhora da TVI - isso foi uma tontice [e sê-lo-ia mesmo no caso impensável que estivesse a denunciar faltas efectivas de Sócrates]. O PM, como político, não tem direito a estados de alma - pode utilizá-los só na medida em que eles estão estritamente instrumentalizados à prossecução de objectivos (políticos) bem pensados - não foi esse o caso, e se foi, é inconcebível o erro. A comunicação social que temos é, como muitas coisas, um dado do contexto, insusceptível de ser alterado no curto e médio prazo, e particularmente, recorrendo a meios que, muito correctamente, são assacadas, (ou deveriam sê-lo), pela esquerda democrática ao grande perigo que ameaça o sector - a saber, a sua captura pelos interesses corporativos e económicos, que privilegiam os sectores políticos que defendam a sua agenda. Se o PM acredita que é isso que está a acontecer, não conduziu o combate da melhor maneira, ou então, na ausência de armas e de exército (o partido: "o novo príncipe"; o trabalho político com os cidadãos; o trabalho político a longo prazo) deveria ter-se remetido, ao nível desse sector, à defensiva, e aguentar-se - aguentar estoicamente, e estar sempre à alerta, faz parte dos requisitos do ofício.
Sócrates não actuou bem a nível da condução política (e pessoal) do seu relacionamento com a comunicação social.
No entretanto, e por demais, se fez o que os outros afirmam que fez (para mim não está [ainda] adquirido que isso tenha acontecido - veja-se as notas da Causa Nossa abaixo) esteve mal ao nível do que deveria ser o perfil de actuação de um político da esquerda democrática. Os erros dos outros - estou convencido nesse particular que a matéria é, no mínimo, tão séria como a de que o PM é acusado - não autorizam e justificam os nossos. Isso é uma questão de inteligência e de ética, o que significa que a má prática, mesmo que ignorada, é inadmissível - tem sempre efeitos subliminares que se ramificam e potenciam. Já o disse: o confronto pelo poder dentro do PSD, alimentado pelo perigo sentido por alguns de uma sua possível irrelevância futura, produziu miasmas e externalidades negativas sobre a democracia portuguesa - tudo aquilo que tem sido visto nos últimos anos criou em muitos a sensação do jogo estar viciado, de ausência de "fair play", e de se estar a tentar, desesperadamente, ganhá-lo na secretaria. O preço que a democracia portuguesa irá pagar ainda disso, ver-se-á. Mas, mesmo aceitando isso, nada justifica o resto, e esse resto começa a azedar.
Abaixo, algumas leituras sobre o momento:
- Causa Nossa: "Mas ao maleável Dr. Rangel, dá-lhe conforme sopra o vento: já com a presidência do seu Partido em disputa, no dia 29 de Outubro de 2009, foi avistado na RTP1 a fazer juras solenes - 'Eu digo aqui, peremptoriamente, que não estou nessa corrida [para a Presidência do PSD]' e acrescentou que 'não faria sentido, neste momento, que eu me candidatasse à liderança deixando o Parlamento Europeu. Eu acho que os eleitores não compreenderiam isso, seria um mau sinal dado à democracia.'"
- Causa Nossa: "Sim, e também penso que o Estado de Direito não está de boa saúde em Portugal. Quando os media divulgam reiteradamente matérias em segredo de justiça ou quando tripudiam sobre a reserva das comunicações privadas, transcrevendo abundantemente escutas telefónicas sem nenhuma relevância criminal -- ainda por cima ilegais --, e quando tudo se passa impunemente, apesar de em ambos os casos tais actos constituírem crime, é caso realmente para temer pelo Estado de Direito entre nós."
- Causa Nossa: "A imaginação fértil de um agente local do Ministério Público conseguiu ver numas conversas telefónicas (aliás ilegalmente registadas) um execrando plano de controlo de uma estação de televisão por parte do primeiro-ministro, apesar de ele nem sequer participar em tais conversas. O seu libelo acusatório foi, porém revogado pelo PGR, que não viu nas tais conversas nenhum indício dessa natureza. Apesar disso, foi a versão conspirativa que vingou nos media e no debate político para julgar e condenar Sócrates, como se verdade adquirida se tratasse. Como nos tempos da Inquisição vieram depois exigir do antecipadamente condenado que prove a sua inocência...."
PS: Isto está, definitivamente, a azedar, e não melhora se o fez por encomenda:
Causa Nossa:
"Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32
anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar
escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a
vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos
escalões.
Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba
nunca sequer me cruzei com ele.
Fraquinho no descernimento é, de certeza. Porque se não quis encalacrar
os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma
providencia cautelar para impedir a saida do jornal SOL com mais
escutas das suas ruminações telefonicas, justamente numa semana em que
os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de
liberdade da imprensa."
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