Podemos querer situar-nos à esquerda; acreditar piamente nos valores de esquerda; mimar todos os gestos, atitudes, e rituais que o tempo definiu como a pátina da definição epidérmica da esquerda; mas, mesmo assim, sermos conservadores. Isto de ser de esquerda, não é seguir uma crença qualquer, está muito próximo da prática religiosa puritana e com razão (leia-se Max Weber - não estou a falar do sentido comum dado a puritano). Isto de ser de esquerda, a sério, naquela linha de transformar o mundo, dá muito trabalho, mais que não seja porque transformar o mundo começa por ser difícil e muito perigoso (veja-se a história do último século). O muito trabalho resulta do muito que se tem de estudar, mas não só: é preciso - estou a ser irónico - perder muitas noites, também, e só estamos começando a conversar.
O conteúdo que atribuo ao conceito de conservador usado neste blogue tem de ser trabalhado e não sei se para tal tenho engenho, arte e paciência. Em todo o caso pode-se recorrer ao que os outros dizem para introduzir o tema. O texto citado abaixo, sem qualificações, é da autoria de Keynes [p.155, A Grande Crise e Outros Textos, Relógio d'Água], e foi aplicada a outro tipo de conservadores - existem conservadores nesta aceção, em todos os quadrantes, e para todos os gostos:
".... o conservadorismo está sempre mais preocupado com evitar um recuo relativamente ao grau de progresso já atingido pelas instituições humanas do que promover o progresso naqueles aspetos que estão prontos para isso, com o risco de "perturbar as ideias" dos irmãos mais débeis e pôr em causa convenções precárias e dificilmente conseguidas que têm o mérito de pelo menos preservar um certo quantum de comportamento decente."
Do mesmo livro, na p. 100, diz-se, também, que:
"Não sei o que torna um homem mais conservador - o não saber nada senão o presente, ou nada senão o passado"
mas, aqui, eu teria mesmo de fazer uma qualificação (para adaptar melhor ao que penso):
"Não sei o que torna um homem mais conservador - o não saber nada senão [mal] o presente, ou nada senão [mal] o passado"
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