Nessa perspectiva, tem-me vindo irresistivelmente à memória um texto que publiquei neste mesmo jornal em Outubro de 2002, intitulado "Os Nossos Problemas". Relendo-o agora, passados quase nove anos e quatro governos, a frustração é grande. Vejamos os problemas então enunciados:
• "Uma estrutura produtiva maioritariamente terceiro-mundista que, para ser competitiva, exigiria níveis salariais incompatíveis com o actual padrão de rendimento do país e com a localização europeia.• Um nível educativo desajustado no tempo e no espaço que, de tanto querer evitar os elitismos, acabou por concentrar num pequeno escol as capacidades indispensáveis para singrar no mundo desenvolvido de hoje. A capacidade de processar informação que utilize um vocabulário um pouco mais elaborado que o dos ‘talk shows' televisivos, que exija a compreensão de dados quantificados ou de um mínimo de conceitos abstractos é hoje apanágio dos que provêm de famílias com essas aptidões ou dos que, por puro bambúrrio, caem numa boa escola.• Uma tradição sócio-cultural que considera o Estado como um aparelho ao serviço dos poderosos para exploração dos desfavorecidos, tornando aceitáveis, quando não louváveis, todos os comportamentos destinados a ludibriá-lo.• Um sistema político e judicial que tanto se preocupou em evitar as prepotências do Estado que acabou por impedi-lo de defender os que cumprem as regras e de penalizar os que prevaricam.• Uma classe política que se especializou na conquista do poder à custa dos benefícios que promete e dos fundos que consegue obter algures; ficaram, assim, ela mesma e o país, reféns de uma ajuda externa raramente gerida com vista à mudança estrutural e cultural que devia ter contribuído para assegurar a competitividade da economia e a identidade nacional, em planos que ultrapassassem os baixos salários e a capacidade reivindicativa de estirpe madeirense.
Na prática, cumprido o desígnio de integração na UE e na moeda única (e tendendo para o esgotamento os generosos fundos que lhes estiveram associados), o que resta à luta política é o desenterrar de escândalos que o sistema se mostra tão incapaz de travar como de resolver e que, dia a dia, mais confirmam o velho perdão nacional ao "ladrão que rouba a ladrão".
Recomenda-se (fortemente) a leitura total do artigo.
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