6 de setembro de 2011

Mas o inefável Ministro das Finanças da Alemanha, e elemento destacado do "pain caucus", discorda do Krugman, do Wolf, do Wolfgang Münchau... e, no fim do dia, veremos quem tem razão.


Nas últimas semanas, os mercados obrigacionistas têm registado variações alucinantes, levando alguns analistas e comentadores a questionar os progressos alcançados para controlar a crise da dívida soberana na zona euro.

Mais recentemente, surgiram dados e indicadores económicos que muitos economistas consideram apontar para uma retoma global titubeante.

Ao invés de clarificar posições, estes desenvolvimentos suscitaram uma cacofonia de receitas sobre o que devem os governos ocidentais fazer a seguir. Houve pedidos para que os reguladores contivessem os especuladores, para que os bancos centrais afrouxassem ainda mais a política monetária, para que os EUA e Alemanha utilizassem o seu suposto "espaço orçamental" para fomentar a procura e para que os líderes da União Europeia enveredassem imediatamente para uma união orçamental e dívida conjunta. Está na hora, mais do que nunca, de clarificar mensagens e prioridades.

Independentemente do papel desempenhado pelos mercados na catalisação da crise da dívida soberana na zona euro, é um facto incontornável que o excesso de despesa estatal gerou níveis de endividamento insustentáveis e défices. Aumentar agora o endividamento vai pôr em perigo o crescimento a longo prazo. Os governos não devem apenas comprometer-se com a consolidação orçamental e o aumento da competitividade - devem avançar imediatamente nesse caminho.


A receita é tão simples quão difícil de implementar na prática: as democracias ocidentais e outros países com elevados níveis de endividamento e défices devem reduzir despesas, aumentar receitas e remover os obstáculos estruturais das suas economias, por muito doloroso que seja em termos políticos. Apenas esta via pode gerar crescimento sustentado em oposição à volatilidade a curto prazo ou declínio económico a longo prazo.

Existem algumas preocupações de que a consolidação orçamental, a redução do peso do sector público e a maior flexibilidade laboral possam minar a procura nestes países a curto prazo. Esta conclusão não me convence, mas, mesmo que assim seja, a dor a curto prazo é compensada com os ganhos a longo prazo.

Os membros da zona euro têm e vão continuar a fornecer assistência financeira condicionada aos países à margem dos mercados de capitais, comprando-lhes tempo para colocarem as suas finanças públicas nos eixos e aumentarem a sua competitividade. Esta estratégia tem riscos, mas é certamente mais arriscado permitir que a crise infecte a zona euro no seu todo e ameace o euro.

Uma lição importante da crise financeira é que os mercados só funcionam bem quando a tomada de riscos não está divorciada do endividamento. O enfraquecimento desta ligação foi um factor crucial da crise.

Sinto algum desconforto quando alguns políticos e economistas advogam a união orçamental e o endividamento conjunto. Além de não resolver a crise de forma duradoura, poderia piorá-la a médio prazo ao remover os incentivos necessários aos parceiros mais fracos para encetar as reformas necessárias.

A Europa sempre avançou um passo de cada vez e assim vai continuar. Isto não significa que a política orçamental da zona euro não seja gradualmente centralizada, desde que legitimada por um mandato democrático. Porém, o reforço da arquitectura da zona euro requer tempo. O caminho não está em causa, nem a determinação de todos os Estados-membros em defender a moeda europeia.

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