6 de setembro de 2011

Pois é: deveria ser feito assim, embora não perceba aquilo de todos abandonarem os programas de austeridade: não poderia ser atenuar ou dilatar no tempo esse esforço?

FT: O pior da crise do euro ainda está para vir | Económico| Wolfgang Münchau


Um dos aspectos actualmente mais preocupantes na zona euro é o facto de qualquer estratégia de resolução da crise estar directamente dependente de uma recuperação económica moderadamente forte.

O programa grego estava em apuros quando foi acordado há seis semanas. Todas as previsões oficiais estavam erradas. O país está numa depressão, e a dinâmica da sua dívida está "fora de controlo", afirma o seu novo conselho fiscal. Em Itália, o banco central está preocupado com a eventualidade do programa de austeridade poder vir a ter efeitos recessionistas.

A estratégia de recapitalização - se assim lhe quisermos chamar - está também a cair por terra sob o peso do abrandamento económico. Na semana passada, assistimos a uma acesa disputa entre o FMI e os governos da zona euro quanto ao montante necessário para a recapitalização. Os dados finais relativamente à recapitalização podem ser muito mais elevados do que as estimativas do FMI se a economia voltar a entrar em recessão.


O abrandamento começou durante este Verão e parece ter vindo a intensificar-se. Os empréstimos bancários ao sector privado têm vindo a cair nos últimos dois meses. A massa monetária em circulação está muito baixo da sua taxa de referência. Um estudo bastante seguido e levado a cabo junto de gestores aponta para uma quebra na actividade transformadora em Agosto. E perante tudo isto, a Europa pode estar já em recessão.

A primeira, segunda e terceira prioridades dos políticos económicos europeus deve ser inverter este abrandamento. Se não conseguirmos inverter isto, a zona euro entrará numa situação de catástrofe, uma vez que cada programa de reestruturação correrá o em perigo de cair e não ver a luz do dia. Infelizmente, a política económica não está preparada para o abrandamento económico. O Banco Central Europeu tem vindo a apertar a sua política monetária desde a Primavera. A política orçamental está em fase de contracção, numa altura em que os governos se apressam a anunciar programas de austeridade. E os responsáveis políticos não parecem ter grande pressa para resolver o problema. A política monetária é a ferramenta mais importante nesta fase, uma vez que é o BCE mais espaço de manobra tem. As expectativas em torno da inflação mantêm-se. A minha medida de avaliação favorita, assente no mercado são os swaps de inflação de cupão zero. E os mesmos apontam agora para uma redução das metas inflacionistas do BCE. O banco central já não tem desculpa para não reduzir a sua principal taxa de refinanciamento de volta a 1%, ou até mais baixo. O objectivo deve ser assegurar que a taxa ‘overnight' converge de volta para o zero. Está agora perto de 1%, pelo que o âmbito efectivo de uma redução das taxas de juro é próximo de um ponto percentual.

O fosso entre as taxas de juro da zona euro e dos EUA é particularmente grande, um pouco abaixo da curva de maturidade. As taxas do mercado monetário a um ano estão nos 2,1%, face a 0,8% nos EUA. Trata-se de um grande fosso que a política monetária europeia deve tentar fechar. Nada disto pode travar o abrandamento por si só, mas pode ser uma grande ajuda.

E, por outro lado, o BCE deve considerar a possibilidade de mexer nas taxas de juro a longo prazo. O seu actual mercado de títulos foi concebido como instrumento de resposta à crise - ostensivamente, de modo a assegurar um bom funcionamento da política monetária. Mas ninguém nunca acreditou nisso. Existe, no entanto, uma solução. O BCE pode transformar o Programa do Mercado Único num programa de estabilidade macroeconómica. Para tal terá que aumentar a dimensão deste programa de forma significativa, para várias vezes o actual valor de 115 mil milhões de euros. Isto ajudaria a impedir a economia de cair numa armadilha de liquidez, algo que acontece quando a política monetária perde capacidade. E o que dizer da política orçamental? O mínimo que deveríamos esperar era que a zona euro abandonasse todos os programas de austeridade com efeitos imediatos e voltar a uma posição neutra do ponto de vista orçamental. Mas até agora uma mudança como esta nem consta da agenda. E como é típico na zona euro, cada país comporta-se como uma qualquer pequena economia aberta no outro extremo do mundo. Cada um acha que as suas acções não afectarão os demais.

Mas quando a França, Espanha e Itália contaram as suas posições orçamentais ao mesmo tempo, juntamente com a Grécia, Portugal e Irlanda, o resultado é uma contracção orçamental coordenada. Apesar de alguns destes países terem um problema orçamental, a zona euro no seu todo não. O rácio da sua dívida face ao PIB é mais baixo do que o dos EUA, Reino Unido ou Japão. Se a zona euro tive passado para uma união orçamental há alguns anos atrás, o seu ministro das Finanças estaria agora em posição de agir. Em vez disso, o actual sistema de políticas não coordenadas conduziu a uma austeridade contagiosa e um abrandamento contagioso.

Isto porque, enquanto não houver união orçamental, os Estados membros da zona euro não terão outra opção que não seja coordenarem-se entre si. Eu iria mais longe e defenderia um estímulo orçamental na Alemanha, Holanda e Finlândia para compensar a austeridade no Sul da Europa. O que importa é a posição orçamental da zona euro no seu todo. Existe ainda pouco reconhecimento nas capitais da zona euro de que o abrandamento económico constitui uma ameaça à existência da mesma. E acho que este abrandamento económico vai atingir fortemente a zona euro sem que esta se possa defender. E quando isso acontecer, a crise da zona euro vai acentuar-se e as coisas vão ficar muito feias.

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