FT: O pior da crise do euro ainda está para vir | Económico| Wolfgang Münchau 
     
Um dos aspectos actualmente mais preocupantes na zona  euro é o facto de qualquer estratégia de resolução da crise estar  directamente dependente de uma recuperação económica moderadamente  forte.
          O programa grego estava em apuros quando foi acordado há seis  semanas. Todas as previsões oficiais estavam erradas. O país está numa  depressão, e a dinâmica da sua dívida está "fora de controlo", afirma o  seu novo conselho fiscal. Em Itália, o banco central está preocupado com  a eventualidade do programa de austeridade poder vir a ter efeitos  recessionistas.
 A estratégia de recapitalização - se assim lhe quisermos chamar -  está também a cair por terra sob o peso do abrandamento económico. Na  semana passada, assistimos a uma acesa disputa entre o FMI e os governos  da zona euro quanto ao montante necessário para a recapitalização. Os  dados finais relativamente à recapitalização podem ser muito mais  elevados do que as estimativas do FMI se a economia voltar a entrar em  recessão.
 O abrandamento começou durante este Verão e parece ter vindo a  intensificar-se. Os empréstimos bancários ao sector privado têm vindo a  cair nos últimos dois meses. A massa monetária em circulação está muito  baixo da sua taxa de referência. Um estudo bastante seguido e levado a  cabo junto de gestores aponta para uma quebra na actividade  transformadora em Agosto. E perante tudo isto, a Europa pode estar já em  recessão.
 A primeira, segunda e terceira prioridades dos políticos económicos  europeus deve ser inverter este abrandamento. Se não conseguirmos  inverter isto, a zona euro entrará numa situação de catástrofe, uma vez  que cada programa de reestruturação correrá o em perigo de cair e não  ver a luz do dia. Infelizmente, a política económica não está preparada  para o abrandamento económico. O Banco Central Europeu tem vindo a  apertar a sua política monetária desde a Primavera. A política  orçamental está em fase de contracção, numa altura em que os governos se  apressam a anunciar programas de austeridade. E os responsáveis  políticos não parecem ter grande pressa para resolver o problema. A política monetária é a ferramenta mais importante nesta fase, uma  vez que é o BCE mais espaço de manobra tem. As expectativas em torno da  inflação mantêm-se. A minha medida de avaliação favorita, assente no  mercado são os swaps de inflação de cupão zero. E os mesmos apontam  agora para uma redução das metas inflacionistas do BCE. O banco central  já não tem desculpa para não reduzir a sua principal taxa de  refinanciamento de volta a 1%, ou até mais baixo. O objectivo deve ser  assegurar que a taxa ‘overnight' converge de volta para o zero. Está  agora perto de 1%, pelo que o âmbito efectivo de uma redução das taxas  de juro é próximo de um ponto percentual.
 O fosso entre as taxas de juro da zona euro e dos EUA é  particularmente grande, um pouco abaixo da curva de maturidade. As taxas  do mercado monetário a um ano estão nos 2,1%, face a 0,8% nos EUA.  Trata-se de um grande fosso que a política monetária europeia deve  tentar fechar. Nada disto pode travar o abrandamento por si só, mas pode  ser uma grande ajuda.
 E, por outro lado, o BCE deve considerar a possibilidade de mexer nas  taxas de juro a longo prazo. O seu actual mercado de títulos foi  concebido como instrumento de resposta à crise - ostensivamente, de modo  a assegurar um bom funcionamento da política monetária. Mas ninguém  nunca acreditou nisso. Existe, no entanto, uma solução. O BCE pode  transformar o Programa do Mercado Único num programa de estabilidade  macroeconómica. Para tal terá que aumentar a dimensão deste programa de  forma significativa, para várias vezes o actual valor de 115 mil milhões  de euros. Isto ajudaria a impedir a economia de cair numa armadilha de  liquidez, algo que acontece quando a política monetária perde  capacidade. E o que dizer da política orçamental? O mínimo que deveríamos esperar  era que a zona euro abandonasse todos os programas de austeridade com  efeitos imediatos e voltar a uma posição neutra do ponto de vista  orçamental. Mas até agora uma mudança como esta nem consta da agenda. E  como é típico na zona euro, cada país comporta-se como uma qualquer  pequena economia aberta no outro extremo do mundo. Cada um acha que as  suas acções não afectarão os demais.
 Mas quando a França, Espanha e Itália contaram as suas posições  orçamentais ao mesmo tempo, juntamente com a Grécia, Portugal e Irlanda,  o resultado é uma contracção orçamental coordenada. Apesar de alguns  destes países terem um problema orçamental, a zona euro no seu todo não.  O rácio da sua dívida face ao PIB é mais baixo do que o dos EUA, Reino  Unido ou Japão. Se a zona euro tive passado para uma união orçamental há  alguns anos atrás, o seu ministro das Finanças estaria agora em posição  de agir. Em vez disso, o actual sistema de políticas não coordenadas  conduziu a uma austeridade contagiosa e um abrandamento contagioso.
 Isto porque, enquanto não houver união orçamental, os Estados membros  da zona euro não terão outra opção que não seja coordenarem-se entre  si. Eu iria mais longe e defenderia um estímulo orçamental na Alemanha,  Holanda e Finlândia para compensar a austeridade no Sul da Europa. O que  importa é a posição orçamental da zona euro no seu todo. Existe ainda  pouco reconhecimento nas capitais da zona euro de que o abrandamento  económico constitui uma ameaça à existência da mesma. E acho que este  abrandamento económico vai atingir fortemente a zona euro sem que esta  se possa defender. E quando isso acontecer, a crise da zona euro vai  acentuar-se e as coisas vão ficar muito feias. 
   
 
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