13 de novembro de 2011

Leiam isto!

Algumas das coisas que são ditas nesta síntese (exemplar) da situação da zona euro feita por Martin Wolf tinham sido escritas e referenciadas neste blogue (ver os artigos sob a etiqueta europa-economia-países) - o artigo tem ser lido na totalidade para apanhar tudo o que é importante. 

Teria só de fazer um reparo quanto ao que é dito sobre a criação do Euro: a narrativa prevalecente sobre isso é que aquela foi determinada pela necessidade de resolver as tensões políticas inter-EM criadas pela unificação alemã. Obviamente que isso é verdade, mas só em parte (ver aqui o que aponto às narrativas incompletas): fica de fora a outra determinante, a da resolução das tensões estruturais criadas à política económica europeia e dos EM pela adopção do Acto Único - todos estiveram de acordo, embora, por diversas razões, até Margaret Hilda Thatcher -, via desbloqueamento de todos os entraves à livre circulação de capitais. 

Notem os mais distraídos que esse Acto Único é que motivou o surgimento em grande dos Fundos Estruturais, pelo que o Euro e os Fundos Estruturais são no máximo primos em segundo grau - "connect the points"!

Será que a zona euro vai sobreviver? | Económico

Os líderes da França e da Alemanha levantam agora essa questão relativamente à Grécia. Se os governantes soubessem há 20 anos o que sabem hoje, nunca teriam lançado a moeda única. Só o medo das consequências evitou a desagregação. No entanto, a questão que se coloca é saber se isso basta. Desconfio que não.

Até ao momento, todos os esforços para controlar a crise fracassaram. É verdade que as lideranças da zona euro amordaçaram o desejo indisciplinado de Papandreou pela legitimidade democrática, mas também é verdade que o stress financeiro ganhou terreno em Itália e Espanha. Com uma taxa de juro real na ordem dos 4,5% e um crescimento económico de 1,5% (a média entre 2000 e 2007, inclusive), o excedente orçamental primário de Itália (antes de juros) terá de ser próximo dos 4% do PIB indefinidamente. O rácio da dívida é, no entanto, demasiado elevado.

Resultado? Ou o excedente primário cresce substancialmente, ou a taxa de crescimento aumenta, ou os juros baixam. Sob a batuta de Berlusconi, as mudanças necessárias nunca terão lugar, mas poderá outro líder inverter o rumo actual? Duvido.

A incapacidade de compreender a essência desta crise tem sido, de facto, o principal problema. Nouriel Roubini, professor na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, toca nos pontos nevrálgicos desta questão num artigo publicado recentemente*. Roubini distingue, tal como eu fiz na minha crónica de 7 de Outubro, entre stocks e fluxos de dívida, muito embora estes sejam mais relevantes do que aqueles. É, pois, fundamental repor a competitividade externa e o crescimento económico. Como observa Thomas Mayer, do Deutsche Bank, "sob a superfície da dívida pública da zona euro e da crise bancária esconde-se uma crise da balança de pagamentos, originada por um mau alinhamento das taxas de câmbio internas". A crise só poderá terminar se os países mais fracos voltarem a ser competitivos. No presente, os seus défices externos estruturais são demasiado elevados para serem financiados voluntariamente.



Roubini apresenta quatro opções para gerir simultaneamente estes desafios de stocks e fluxos da dívida: primeiro, repor o crescimento e a competitividade mediante um alívio quantitativo agressivo, um euro mais fraco e políticas de estímulo nos países centrais, mantendo-se o programa de austeridade e as reformas na periferia; segundo, um ajuste deflacionista somente na periferia, juntamente com reformas estruturais para obrigar os salários nominais a descer; terceiro, financiamento permanente da periferia não competitiva por parte dos estados centrais; e, quarto, ampla reestruturação da dívida e desagregação parcial da zona euro. A primeira opção poderia alcançar o ajustamento necessário, mas implicaria numerosos incumprimentos. A segunda falharia em termos de ajuste do fluxo e, como tal, correria o risco de se metamorfosear na quarta opção. A terceira possibilidade impediria ambos os ajustes (stocks e fluxos da dívida) na periferia e poderia resultar numa situação de insolvência para os países centrais. A quarta seria, pura e simplesmente, o fim.
Infelizmente, são muitos os obstáculos que se perfilam em todas estas opções. A primeira proposta é aquela que, eventualmente, poderá surtir efeito em termos económicos, mas a Alemanha nunca iria aceitá-la. A segunda é politicamente aceitável para a Alemanha (apesar do impacto negativo na sua economia), mas seria inaceitável para os países periféricos. A terceira é politicamente inaceitável para a Alemanha e também poderá sê-lo para a periferia. A quarta é inaceitável para todos - pelo menos por ora.

[continua]

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