Mas onde se encontra a tal dose de ironia que mencionei no início deste texto?
No facto de economistas liberais como Hayek e Mises colocarem a tónica na
centralidade do preço de mercado aberto e transparente, que consideram crucial
para a coerência do capitalismo liberal. O valor das coisas é fixado pelas
preferências subjectivas dos consumidores, pelo que o preço deixa de ter sentido
quando exterior à interacção dessas preferências subjectivas. O valor,
precisamente aquilo que o preço representa, não pode ser fixado por um modelo
estranho ao preço de mercado. Logo, o preço é a medida do valor, ou seja, não
existe outro sentido de valor associado aos bens económicos. Nesta perspectiva,
o preço constitui uma ferramenta informativa crucial para a economia de mercado,
pois indica onde está a procura e o que devem fazer empresários e fornecedores –
e quais os custos – para satisfazer a procura. Desvincular o valor do preço
significa que passámos para a esfera do irreal, do metafísico. A ironia reside
no facto de a grave crise nas economias capitalistas liberais poder abrir
caminho a uma maior regulação e intervenção governamental, e, in extremis, a um
maior nacionalismo devido à substituição da lógica de valor e preço por
concepções abstractas de preço, que não podem, enquanto tal, assumir o papel
indispensável até aqui desempenhado pelo preço na economia capitalista, visto
carecerem de uma base racional. Neste contexto, existem fortes razões para
pensarmos que os modelos matemáticos não podem captar nem conceptualizar valor.
agora, sobre as atribulações de um independente de esquerda nestes tempos da III República ...
10 de dezembro de 2007
Conjuntura, inovação financeira e regulamentação
Raymond Plant destaca neste artigo: A decadência do liberalismo - DiarioEconomico.com, o papel que instrumentos financeiros, cujo valor é determinado através da aplicação de modelos matemáticos, teve na crise - ainda em curso - no mercado de crédito (de alto risco - subprime) à habitação. Esses modelos matemáticos não são bons substitutos, em termos da informação económica que fornecem, dos preços formados em mercado, e o seu uso, pelas consequências que acarreta, pode desembocar no contrário do que defendem os defensores da inovação financeira à outrance e com o mínimo de regulamentação. Raymont Plant explica a ironia da situação: