29 de janeiro de 2008

Optimismo qualificado versus preocupação qualificada

The Economist, em The world's silver lining: somewhere over the rainbow, assegura que as coisas, a nível mundial, não estão más - muito pelo contrário -, e fundamenta a opinião, em evoluções recentes no domínio da demografia, do crescimento económico, da globalização, da diminuição da pobreza extrema, do número e intensidade dos conflitos. Os números avançados são sugestivos (alguns são reproduzidos imediatamente abaixo) e credibilizam (em princípio, e a mais ver) a tese.

  • Um exemplo: "In China 25 years ago, over 600m people—two-thirds of the population—were living in extreme poverty (on $1 a day or less). Now, the number on $1 a day is below 180m. In the world as a whole, a stunning 135m people escaped dire poverty between 1999 and 2004. "

  • Outro: "In 2007 Unicef, the United Nations child-welfare body, said that for the first time in modern history fewer than 10m children were dying each year before the age of five. That is still an awful lot but it represents a fall of a quarter since 1990. Life expectancy has increased a bit in low- and middle-income countries. The long march to literacy is nearing an end: three-quarters of people aged 15-25 were literate in 1975; now the rate is nearly nine-tenths."

  • Ainda outro: "A generation ago the biggest worry about poor countries was over-population. Books such as “The Population Bomb” (1968) and “The Limits to Growth” (1972) predicted Malthusian crises in countries where women were having five children or more. Since then the fertility rate (the average number of children a woman can expect during her lifetime) in low- and middle-income countries has crashed. In East Asia and the Pacific, the rate was 5.4 in 1970. Now it is 2.1. In South Asia, the fertility rate halved (from 6.0 to 3.1). In the world as a whole, fertility has fallen from 4.8 to 2.6 in a generation (25 years)."

The Economist ajuiza a sua posição como sendo de optimismo qualificado. O problema, a meu ver, é que não qualifica tanto como isso, deixando de fora aspectos essenciais, que têm a ver com o nosso futuro: e.g., a evolução demográfica desacelerou, de modo significativo, mas a inércia do seu crescimento absoluto continua a ser brutal, como brutal é a pressão, que resulta disso, sobre os recursos do planeta; e não se fala da sombra que os potenciais efeitos do aquecimento global lança sobre este século (ver aqui uma apreciação que vai também nesse sentido). Mas o exercício do Economist é útil, para lembrar que, se temos razões para ser pessimistas - prefiro a designação de preocupados - devemos sê-lo, integrando na apreciação, toda a complexidade das situações (nomeadamente: os factos e as evoluções positivas; tudo aquilo que pode contrariar as nossas convicções). Os preocupados deste mundo, a serem eficazes na transformação das coisas, devem sê-lo de modo qualificado - (gosto da expressão: preocupação qualificada).

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