Editorial do Diário Económico sobre o comportamento do euro e a actuação do BCE: Medo de baixar os juros. Inclino-me a considerar que o BCE está actuar bem, mas o tempo o dirá. Mas não me peçam para fundamentar a percepção - teria de rever a matéria e recolher mais informação: e.g., qual é elasticidade da resposta da economia europeia a uma baixa da taxa de juro quando esta já está em 2%?; em que medida as diferenças entre as economias norte-americanas podem explicar (e obrigam) a diferença de actuação do BCE e do FED?; a eficácia dessa medida de política não seria maior num quadro de maior certeza sobre a evolução da situação e com a dimensão actual da taxa de juro ainda preservada? A minha ignorância é grande. Em todo o caso a peça vale por lembrar algumas coisas e apontar outras que devemos ter em conta - embora diga, ainda, outras, não do modo mais correcto.
O texto com comentários (parêntesis recto):
"Ontem, a moeda única europeia ultrapassou pela primeira vez 1,51 dólares. Nunca o euro valeu tanto face à moeda norte-americana. As razões imediatas são conhecidas: a recessão quase certa nos Estados Unidos. Os investidores estão a fugir dos activos em dólares porque as perspectivas de ganho são fracas. Fica o euro a ganhar. E esta tendência vai manter-se durante este ano.
Mas há uma leitura política que deve ser feita. Esta valorização é uma vitória do projecto europeu de união económica e monetária. É preciso ter memória. Nem sempre foi assim. Quando arrancou – o euro nasce como moeda escritural em 1 de Janeiro de 1999 –, poucos acreditavam que tivesse sucesso [não é verdade!]. Em Maio de 2001, andava pelas ruas da amargura [mais que não fosse por isso: a história do comportamento relativo do dólar em relação ao euro demonstrava que algures no futuro o euro ir-se-ia valorizar, e em todo o caso, uma moeda estar desvalorizada não pode ser lida "como andar pelas ruas da amargura"] . Mas a verdade é que fez o seu caminho de credibilização e hoje ameaça o dólar enquanto moeda dominante na economia mundial.
É também uma vitória do Banco Central Europeu (BCE). O seu estatuto de independência face aos políticos e a forma como tem conduzido a política monetária explicam muito do sucesso do euro. Ontem, os banqueiros centrais europeus tinham motivos para abrirem garrafas de champanhe. Mas a festa deve ser curta. O euro forte coloca a sua estratégia em xeque.Todos pedem uma descida dos juros. Políticos [além do Sarkozy, quais?], economistas [gostava de saber quais e qual a argumentação] e empresários pedem que Jean-Claude Trichet acompanhe Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal, e dê uma injecção de política monetária expansionista na economia europeia. O BCE tem resistido. Prefere sublinhar as pressões inflacionistas resultantes do petróleo acima dos 100 dólares. E recorda que no seu ADN está a filosofia do alemão Bundesbank: controlar a inflação acima de tudo, mesmo que tenha consequências negativas para o crescimento económico e o emprego [quanto muito só no curto prazo; não gosto como isto é dito].
É aqui que entra o euro em alta e estraga a argumentação do BCE. Com a moeda europeia tão valorizada contra o dólar, o petróleo sai barato. Ontem, o barril vendeu-se a 102,08 dólares. Quem pagou na moeda europeia, só precisou de 68 euros. Ou seja, o euro forte é um escudo contra a inflação importada [não percebo: se baixar a taxa de juro, de modo significativo, isso tenderá a diminuir a força do euro]. É verdade que há outras ameaças para a evolução dos preços. Há outras matérias-primas com fortes valorizações e há o perigo das subidas salariais. Contudo, o arrefecimento da economia é um forte analgésico contra a inflação. Menos consumo, logo menos pressão sobre os preços. Portanto, cruzando toda a informação, os banqueiros centrais não parecem ter razões para tantas cautelas. Estão agarrados à sua ortodoxia habitual. Ao contrário do voluntarismo da Reserva Federal, o BCE prefere pagar para ver. Vai esperar pela dimensão do impacto da crise internacional na economia. A Comissão Europeia já reviu em baixa o crescimento para um valor abaixo dos 2%. Não parece ser suficiente. Mais uma vez, o BCE está a ser reactivo. Vamos ver se não actua tarde demais, deixando cair a Europa em recessão. A festa do euro alto passaria a pesadelo."
PS: (28.03.01) Ver a este propósito um artigo de Samuel Brittan, The pressure on UK living standards, no Financial Times. Um excerto: "My worry of substance relates to the international context. Despite the rise in commodity prices, there are recessionary pressures throughout the western world. Should the UK risk adding to them? The orthodox answer is that any expansionary policies should come from Asia. But how realistic is this? China already has a 7.2 per cent inflation rate; and how many of the oil producers could sensibly absorb much more domestic spending? A convincing justification for the UK not following the US and pulling out all stops to offset the credit crunch would have to depend on some combination of the following considerations. The US faces greater recessionary dangers than the UK, which is now too small a part of the world economy (just 5 per cent) to set an example; and the US still has the broadest shoulders to bear the expansionary burden.
We can all moralise about the risks that Ben Bernanke, Federal Reserve chairman, is taking to keep the US afloat; but many of us must feel a sneaking relief that he is taking them."
Sem comentários:
Enviar um comentário