2 de março de 2008

Bancos Centrais, a política monetária e a inflação

Esta matéria prende-se com aquilo que se dizia aqui, sobre a actuação do Banco Central Europeu. Nessa nota, a contrário do artigo do Diário Económico, eu mantinha em aberto a possibilidade do BCE estar a actuar de modo prudente e adequado face à conjuntura. As informações que vêm do outro lado do Atlântico, sobre a evolução da inflação nos EUA, e como o FED está a regir, não me levam a alterar essa posição: muito pelo contrário.

A inflação nos EUA está a aumentar de modo muito significativo - em Janeiro, a inflação homóloga atingiu o valor de 7,4%, o pior valor desde 1981. Sasha Abramsky, no Comment is free (Guardian), em Bottom dollar, ajuiza de modo muito crítico o modo como o Banco Central norte-americano tem utilizado a política monetária em resposta a esta nova situação: "The economic news of the week: US inflation is now the highest it's been since 1981: In many sectors of the economy - food, energy, healthcare - it's now running at double-digits, and the dollar's value against the euro has plummeted through the $1.50 barrier. If this were any other country in the world, lowering interest rates in the face of inflation numbers such as were released this week would result in condemnation from the International Monetary Fund, in financial powerbrokers strong-arming politicians to do the sensible thing and reverse course. But we're the biggest, strongest, most unilateralist nation on earth. So that's not going to happen. Nobody will strong-arm the Fed to raise rates, and, to subsidise the nation's current reckless consumption patterns, the poor will continue to see their already-shrivelled purchasing power decline."








A sua tese é do problema maior, agora, ser a degradação do poder de compra dos salários mais baixos - dá exemplos (são muito esclarecedores) - e não o desemprego, donde uma dose moderada de monetarismo conjugada com subsidiação direccionada e alívio aos problemas no mercado hipotecário, poderia ser a solução. Mas esse não é o caminho seguido: iria contra os interesses da classe média (necessidade de manutenção do seu padrão de consumo) e dos donos de acções, (e da saúde das instituições financeiras) e, viria a contrário da linha ideológica desta administração. Relembra, também, que a responsabilidade deste surto inflacionista sendo imputável a causas externas, tem uma componente interna incontornável.




Esta análise é escorada, pelo menos, em parte, por outras. O blogue Political Calculations, nesta nota Choosing Inflation diz: "Allowed to go on for too long, you would end up with the same kind of imbalances and economic nightmare had you chosen the shock therapy approach instead. Only now, lots of people cannot afford anything like their previous standard of living because everything costs so much more." Discute as opções e confirma que tudo aponta para o FED ter optado pela saída mais fácil, no curto prazo: a inflacão.



Por seu lado, o blogue Free exchange (Economist.com) fala de The consumer squeeze: "Now, however, inflation is primarily being driven by increasing raw materials prices, which squeeze corporate margins. That squeeze and a weak economy rule out significant wage increases for most workers. As such, real wages fall with inflation. This forces consumers to reduce their spending, further undermining the economy. The result is substantial pain for most households and a rather large headache for Ben Bernanke."







Em suma, e até prova em contrário, o BCE está a actuar bem e, da minha parte, estou muito satisfeito com o euro, por esta e por outras razões - mesmo, implicando isso, que pague mais caro (afirma-o a vox populi) a bica e outros produtos do que pagaria se continuasse com o escudo.

PS (08.03.04): No entanto, Paul Krugman considera que o FED está a fazer aquilo que deve ser feito (ver aqui).

PS(08.03.04): E mais sobre este assunto no Economist's View, em Fed Watch: Inching Closer to the Reality of Stagflation. Outra apreciação, focando mais a situação geral da economia norte-americana: An economic slowdown? The San Diego Union-Tribune.

PS(08.03.04): As coisas estão pretas: mais do mesmo, no Free exchange (Economist.com) - From tightrope to hurdles.

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