9 de março de 2008

Educação em Portugal (III)



Tenho acompanhado o debate sobre a situação das reformas da educação, em diversos fora da comunicação social, e não tenho gostado nada, do que tenho ouvido. Como uma participante do Expresso da Meia Noite admitia, (atirando as culpas para o modo como o Ministério geria as relações de trabalho com os professores), acaba por não se discutir o mais importante, que é a própria educação - e era o estado de necessidade desta, em Portugal, que deveria determinar, em primeiro lugar, os juízos de valor, de todos nós, cidadãos, sobre a actuação dos diversos intervenientes no processo.







O modo, como grande parte da "intelligentsia" portuguesa aborda a situação da reforma da educação, prima pelo desconhecimento; pela elevada sensibilidade à "conventional wisdom" destilada, em grande parte, pela comunicação social; pela atenção irrazoável à "espuma dos dias" e pela recusa de tomada de posição sobre o que está mal na educação - porque algo está mal (e se não sabem porque é que está mal - compreensível: o assunto é manifestamente complexo -, não falem).



Ouvi a Ministra da Educação e, pasme-se - sou um indivíduo atípico -, a excepção, gostei de a ouvir; impressionou-me pela consistência do que diz; pelo domínio da temática; pela razoabilidade do que propõe em termos de objectivos e de factibilidade; e pela determinação tranquila que assume. Desmontou a questão do fluxograma assustador mostrado no Prós-e-Contras e mostrou uma folha de diligências, que à distância, será mais singela (se bem me recordo) do que se passa em termos de avaliação no resto da Administração. E aquilo que diz não será contraditado como é óbvio - ataca-se sempre os homens (e as mulheres) "de palha" construídos pela "conventional wisdom" (ver aqui, noutro contexto: primeiro "tique"). MRS, que a acusa de ter conduzido (politicamente) mal o processo - meu Deus, houve cento e tal reuniões entre o Ministério e os sindicatos!, disse-o o director do Expresso, no Expresso das Nove - admite, implicitamente, que o proposto por ela é correcto, ao atribuir-lhe um conteúdo de recuo. Terá sido um recuo? Se o foi, ainda bem.







Ao ouvir a Ministra, ocorreu-me outra coisa. A ausência de partidos a cumprir o seu papel de mediadores de política, explicando, influenciando, defendendo programas, junto dos cidadãos, faz com que governos e ministros reformadores tenham que defender-se sózinhos - a Ministra tem a solidariedade do Partido Socialista: confrangedor! Deveria ter era o combate do partido, em todos os fora, em defesa e em explicação do programa do Governo (do programa do partido) - o que dá, depois, é cenas como a do António Correia de Campos a desdobrar-se em entrevistas na última semana como Ministro. A explicação (absolutamente necessária) deveria, como é natural, assentar no Governo, mas também nos deputados e nos militantes - o que obrigava, em primeiro lugar, trabalhar com eles. Os partidos, enquanto comissões eleitorais, podem funcionar assim, sem grande problema, se não tiverem uma restrição orçamental forte, e gerirem o "status quo" (esta gestão é compaginável, vamos ser correctos, com fazer muitas coisas úteis e positivas). Governos reformadores necessitam de partidos a funcionar de modo diferente - a funcionarem como partidos.



Aliás, isto chama à baila outra questão, não menos interessante: a relação dos governos (reformistas) com a comunicação social. Chamaria a atenção para duas facetas da questão. Em primeiro lugar, aquela actuação dos partidos serviria para mitigar uma característica quase genética da cobertura noticiosa - a comunicação social tende a fazer "médias" das posições em confronto, mais que não seja, como modo de se defender de possíveis acusações de enviezamento e de parcialidade (discute-se isso nos EUA - sobre a cobertura noticiosa, e.g., do aquecimento global podem aceder aqui a diferentes posições) . Essa prática, até não dá produtos de bondade duvidosa, quando as posições contraditórias são de qualidade e os interesses em causa estão devidamente identificados. Em segundo lugar, a ausência de partidos a funcionar como deve ser, reforça a necessidade - sempre presente, em todo o caso -, de um tratamento profissional específico com a comunicação social. Os governos têm de ter gabinetes e assessores de imprensa para veicular informação adequada à comunicação social - como cidadão, eu tenho medo, é das campanhas de formatação da opinião pública, feitas pela calada. A essa luz é que deve ser apreciada a atitude (tonta e demagoga) de Santana Lopes de recusar tal coisa e a de Manuel Alegre (não a qualifico) em o aplaudir por isso.

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