21 de março de 2008

Educação em Portugal (IX)

Ouvi à pouco na SIC Notícias, num programa (não o vi todo) sobre analfabetismo: um moço novo, analfabeto, não frequentou a escola, porque muito cedo foi confrontado pela família com uma escolha: ter uma bicicleta ou ir para a escola. É uma situação extrema, dir-me-ão, mas que se insere numa distribuição (atípica em termos europeus e da OCDE) de atitudes sobre a educação, por parte da população portuguesa, menos valorativa do interesse e das potencialidades daquela, e da intensidade e rigor com que deve ser prosseguida por todos - essa distribuição menos favorável tem diversos e diversificados afloramentos: veja-se, por exemplo, o receio, ainda frequente, do excesso da leitura, ou do excesso do estudo, quanto à saúde mental e física dos alunos (justificando aos olhos de muitas famílias, a bondade de mais uma semana de férias da Páscoa - como se os nossos alunos trabalhassem, em casa e na escola, com intensidade dos alunos dos países do Extremo-Oriente).


As razões são históricas mas - está para fazer a prova em contrário - seria possível - sempre o defendi - com o adequado (militante, empenhado, criativo, profissional, e sustentado no tempo) marketing sócio-político, ir alterando as percepções da população sobre o assunto. A atitude menos adequada das famílias é, também, um dos factores determinantes do insucesso escolar em Portugal.


Esta ausência de trabalho com os cidadãos, no sentido de se tentar alterar precepções e atitudes, é aliás extensiva a outros domínios - um exemplo: foi referido pelo Presidente da associação que trabalha com os doentes da hipertensão que, dos recursos usados no tratamento da doença, só 2% iam para a prevenção. As consequências em termos da eficácia das políticas da educação, da saúde, do ambiente, etc., deveriam ser conhecidas e interiorizadas por todos os intervenientes políticos.


Bem gostaria que se reciclasse o "conceito" de "economicismo" para designar a actuação política que se restringe ao estrito uso dos dinheiros do orçamento para fazer a coisa pública - o processo de discussão verbalista, não substantiva, não sustentada, entre os adversários partidários, não conta como política (note-se, para mim). Ter em atenção que o trabalho de alterar as percepções dos cidadãos não se reconduz só ao marketing sócio-político nos meios de comunicação social - aliás, tenho as minhas dúvidas sobre a sua efectiva eficácia (para não falar da sua eficiência).

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