15 de julho de 2009

Aprender com os outros: as lições do sistema de saúde dos EUA


Este artigo sobre os custos do sistema de saúde norte-americano: Annals of Medicine: The Cost Conundrum : The New Yorker, foi muito referenciado e elogiado pela sua qualidade e tempestividade - segundo parece tornou-se leitura obrigatória de tutti quanti na Administração Obama, que se prepara para uma batalha política momentosa com a tentativa de reforma daquele sistema.

Qual é a história do artigo?

Uma virtude do sistema norte-americano é ele saber-se quantificar - como é bom de ver, pelo seu próprio exemplo, a quantificação (ou, para os mais distraídos entenderem: a produção de informação estatística de qualidade, atempada, fiável, abrangente, desagregada) é tão-somente uma condição necessária de uma gestão pública (de qualquer tipo de gestão) eficaz e eficiente. Ora, na base dessa quantificação - é de estarrecer, a qualidade é a quantidade da informação estatística disponível -, foi possível ao médico que o redigiu, determinar a cidade (sim, a cidade) onde os custos de saúde per capita eram os mais elevados do país; ir lá; comparar com os resultados (também existe informação estatística para isso), e tentar perceber o porquê do problema: crescimento sustentado e exagerado (em termos absolutos e relativos) dos custos da saúde norte-americano - a cidade, MacAllen, Texas, é, diz-se a dado passo, a cidade com a saúde mais cara, num país que tem a saúde mais cara do mundo.

Todo o artigo é um excepcional exercício de levantamento sociológico de uma situação - recomendo-o vivamente. À segunda leitura, gostei ainda mais dele. Porque foca tudo: incentivos; a questão da eficiência versus qualidade dos cuidados de saúde; a prevenção, ... . E , também, porque - mesmo tendo em conta as diferenças substanciais para o que se passa na Europa, e em Portugal - existem sinais de alguma evolução no sentido denunciado pelo artigo como preocupante, e como estando [também] na base da ineficiência crescente do sistema de saúde dos EUA: a empresariação dos médicos - note-se que isso, pelo menos de acordo com o artigo, não decorre necessáriamente da existência de uma medicina privada.


Para além de tudo mais, veja-se como se trabalha; veja-se como se estuda a coisa pública; vejam a falta do espírito de quantificação; vejam o bom que seria poder fazer o mesmo, em Portugal, na Região, não só para a saúde, mas também para a educação, e tudo o resto.



Estas notas do blogue The Baseline Scenario são exemplos da discussão que se seguiu : When Market Incentives Lead to Bad Outcomes The Baseline Scenario  e  The McAllen Problem The Baseline Scenario (para mais, seguir os links referidos aí, e ou pesquisar na Google,  McAllen e Atul Gawande).

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