22 de julho de 2009

Leituras sobre o País (e coisas afins) - artigos, notas e apontamentos que retive


Sem comentário, e sem qualificações (não, que as não tenha, mas continuo a tentar limpar as notas guardadas e não publicadas, e não quero investir muito nesta - mas, porque, não as elimino, pura e simplesmente?: complicado de responder).
"Nestes muitos meses que vamos passar em campanha eleitoral, a correria já deixou entender que não se vai olhar a meios para conquistar votos. Não se hesita em insultar quem quer que seja. Muito menos em desenterrar todos os pecados que actuais e antigos governantes tenham cometido. Os arquivos e os armários conservam muitas impressões digitais destinadas a alimentar o descrédito. É esta a aposta mais forte: descredibilizar o adversário directo.
Quanto ao país, o debate fica pela defesa ou condenação das obras públicas... Habituámo-nos a viver à sombra protectora do Estado. Nunca fomos terra de liberais e muitos dos que enchem a boca com iniciativa privada acabam quase sempre por ficar à espera do Estado. Por desejo ou necessidade protectora ou porque, finalmente, tudo e todos se habituaram a depender do Estado. A teia burocrática é uma das suas emanações e não há "simplex" que lhe tolha os tentáculos. Queiramos, ou não, por medo ou convicção, com ‘golden share' ou sem ‘golden share', lá estamos e continuamos nas malhas do omnipresente. Desconfiem sempre dos que mais vituperam o intervencionismo estatal... A verdade é que parece não haver muito a fazer contra a mão mais ou menos visível do Estado.
A revolta liberal costuma redundar numa rendição quando se erguem os valores mais altos dos negócios. É raro que alguém faça negócios sem se pendurar no Estado, sem a sua bênção ou beneplácito, sem uma conversinha prévia com o senhor ministro, sem a garantia de que o Governo não se opõe... Vivemos num país acanhado, que suporta mal a concorrência, a competitividade, que adora viciar as regras, ganhar favores, manobrar na secretaria, que se endivida e volta a endividar porque se convenceu que o crédito não tem fim. Um país e uma nação bipolares. Ora inebriados por grandes eventos, grandes estádios, pontes e auto-estradas; ora deprimidos pelos défices e apostados em tudo fechar para balanço. Pouco liberais, sempre a tudo pedirem ou a tudo cortarem.
A Nação está anémica. Tolhida pela incapacidade de criar riqueza e pela falta de carácter de muitos servidores públicos. Os programas que o centrão tem para nos propor resumem-se em poucas palavras: fazer tudo ao contrário. A ânsia pelo contraste é tal que tudo acaba por se confundir. Uns fizeram antes o que agora condenam. Outros desistiram de fazer o que prometeram. A campanha eleitoral em tempo de emergência nacional está a paralisar o país. Todos querem parecer aquilo que não são. Já pecaram demasiado para acreditarmos na sua virgindade. Que separa o PS do PSD? Sócrates e Manuela? É pouco, mesmo que pareça muito."  O país adiado Económico 


Segundo Emmanuel Todd, a França teria entrado numa fase de estagnação e de (re)estratificação educativa, a que corresponderia um crescente pessimismo cultural das suas elites. Se entre 1950 e 1995 a proporção de jovens que em cada geração acedeu a uma formação superior passou de 5% a 33%, desde então teria estagnado naquele patamar superior. Estagnação que teria conduzido ao fechamento de uma classe educada numerosa que, pela sua dimensão, permitiria que os produtores culturais e ideológicos se dirigissem exclusivamente a ela, desprezando a maioria da população.

A este novo elitismo corresponderiam novas justificações da desigualdade social com base num pessimismo cultural desvalorizador dos progressos educativos e da escola de hoje. 

O quadro traçado por Todd sugere, imediatamente, a comparação com o sector nacional-pessimista representado, entre outros, por António Barreto e Vasco Pulido Valente. Não admira, naquele contexto, a rejeição pelo sector de medidas que visem superar a estagnação da progressão educativa também observável em Portugal. Trata-se, na realidade, de defesa de privilégios ocultada por representação negativa de todo o fenómeno de massificação, bem retratada por Todd: “o mundo dito superior pode fechar-se sobre si próprio, viver em circuito fechado e desenvolver, sem disso se dar conta, uma atitude de distância e de desprezo em relação às massas, ao povo e ao populismo que nasce por reacção a esse desprezo” (Aprés la Démocratie, Gallimard, 2008, p. 84). 

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