2 de julho de 2009

Nisto, estou de acordo (com quase tudo) com o Pacheco Pereira...

E as razões mais pessoais nem serão o que mais me interessa. Obviamente, não estou de acordo com a posição do articulista quanto à questão das quotas.

Nota: Estive arredado do blogue devido a recaída malsã do meu computador - espero que este se venha a manter operacional nos próximos tempos.

A transcrição de partes da crónica do Público de 27 de Junho de 2009:

"[...] Muita coisa má se está a promover à custa da idade e da renovação "geracional", disfarçando conflitos de poder pelos bens escassos, não entrando em conta com outros critérios menos mediáticos e espectaculares. Numa sociedade equilibrada, numa democracia capaz, os critérios incluem a idade e a geração, mas incluem igualmente os costumes públicos, a experiência, os comportamentos, as ideias e as práticas. Ou seja, são indivíduos que são avaliados, não abstracções na moda. Por isso, se me perguntarem que "renovação" eu quero, por exemplo, nas listas de deputados, nos membros do governo, eu respondo de modo muito diferente daquele que por aí impera. Deve ser da idade.

Por exemplo, para mim, renovar é trazer para a política pessoas com vida e profissão, que tenham conhecido dificuldades, desilusões, derrotas, perdas, que sejam mais de carne do que de plástico. Há cada vez menos gente assim na política, à medida que nos partidos as jotas funcionam como incubadoras de carreiras semiprofissionais e profissionais de política. Elas implicam quase sempre baixa qualificação profissional, cursos de segunda, pouca experiência profissional e vidas que rapidamente acedem a regalias e prebendas que separam os que as recebem do comum dos cidadãos e dos seus companheiros de geração. Quem entra para assessor numa autarquia, ou para deputado, sem ter tido profissão, tende a ficar preso pela sua falta de qualificações e saída profissional. Os aparelhos partidários estão cheios de gente assim, que gere obediências e sindicatos de voto, a quem não se conhece um "não" que os afaste por consciência de qualquer lugar. [...]

Por exemplo, para mim, renovar significa escolher pessoas que mostrem ter uma intransigência grande com a corrupção. Não basta serem honestas e sérias, o que muita gente é na política. É preciso ir mais longe, dada a natureza do meio e das suas tentações, é preciso não pactuar com quem seja menos honesto. Embora este seja um terreno difícil, a "ética republicana" como queria Pina Moura não é apenas a lei e os prevaricadores não são apenas os culpados em tribunal. É necessário que nos partidos políticos haja cada vez mais gente que não ajuda, promova, seja indiferente com quem abusa do seu lugar, quem enriquece sem explicação, quem serve o contínuo tráfego de influências que passa pela política. Os partidos políticos, em particular o PS, o PSD e o CDS, pagam em termos da opinião pública um preço elevado pelo comportamento dos seus dirigentes e militantes, envolvidos em histórias pouco dignificantes, mesmo que não cheguem a ser crimes. Muito da regeneração possível dos partidos passa por aí, embora reconheça as enormes pressões para marginalizar quem não pactua com esses hábitos.

Para mim, renovar é procurar diversidade, de modo que Portugal todo caiba na política e não apenas os eleitos pela fortuna, pela riqueza e pela classe social e pelo nascimento. Mais importante do que as quotas (que penso serem um absurdo, como o é a lei da paridade) é encontrar pessoas com capacidade de falarem e serem ouvidas pela sociedade portuguesa em todos os seus matizes. A maioria dos portugueses são operários, agricultores, trabalhadores dos serviços, funcionários públicos, micro e pequeno-empresários, e todos eles estão sub-representados na vida política, quer enquanto tal, quer através de representantes que conheçam os seus problemas e falem a sua língua. É o problema de qualificar a acção política por "saberes" diversos, fruto da experiência, do conhecimento de vida, do estudo, para evitar o progressivo divórcio entre a realidade nacional e a representação política.Podia continuar, mas penso que já se percebe.

Faça-se a "renovação" por aqui e encontrar-se-á gente nova e mais velha, capaz de nos fornecer melhores políticos. Mas para que tal seja possível nos partidos é necessário ir muito mais longe do que os poderes e equilíbrios internos, porque a realidade mostra que as escolhas das direcções nacionais são mais racionais do que as dos aparelhos interiores aos partidos. E não estou propriamente a pedir Churchills. Vamos ver."

- retirado do ABRUPTO.

Sem comentários: