21 de setembro de 2009

Eleições: Cavaco e o meu voto nas presidenciais

Não sei se a história de Belém com o Público irá influenciar as próximas eleições legislativas, mas que influencia o modo como irei votar nas presidenciais, disso não haja dúvidas.
Tinha vindo a encarar como uma séria possibilidade a de votar Cavaco para um segundo mandato, hipótese condicionada a quem seria, presumivelmente, escolhido pela esquerda: para mim seria uma primeira vez já que, nunca, votara à direita do PS. Não vale a pena perder muito tempo a explicá-lo: tratar-se-ia de evitar a eleição de alguém que, no meu juízo, não estaria preparado para o efeito.
Este episódio das escutas arredou para sempre essa possibilidade. Pensei ainda tecer algumas considerações sobre o assunto - um bocado de paranóia, como alguém o disse, é necessária, mas o que nos distingue, e distingue bem, é o modo como lidámos com ela - mas isso não é necessário quando outros o fazem melhor do que eu. Alguns exemplos que respiguei:
Já muito se disse e escreveu sobre a forma como o Presidente da República actuou neste processo, a forma como fez chegar a um jornal dúvidas e desconfianças que, a serem verdadeiras, deveriam ter tido outro destinatário, o Procurador, e outra consequência, a demissão do Governo.
Não tendo havido nenhuma das duas, estamos perante uma actuação parcial e política de Cavaco Silva, alinhado com o PSD, para descredibilizar o Governo e o PS. Mas, esta questão, sendo grave, é do foro político.
A outra, muito mais grave, ultrapassa o resultado eleitoral do próximo dia 27 e diz respeito à desautorização de que foram alvo os serviços de informação nacionais quando Cavaco manifesta as suas dúvidas em relação às questões de segurança, nomeadamente o SIS, serviço que o próprio Cavaco Silva criou quando era primeiro-ministro. Nos termos ambíguos em que o fez, sob o manto das eleições dentro de uma semana.
Como o Diário Económico escreve na edição de hoje, a reforma orgânica das ‘secretas', a criação do cargo de secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa dependente do primeiro-ministro e que coordena o SIS e o SIED, foi o único, e último, acordo de regime em Portugal. Foi feito entre o PS, o PSD e o CDS, foi, aliás, um dos raros casos em que os socialistas aprovaram uma proposta dos social-democratas.
Agora, Cavaco põe em causa este modelo, o que é legítimo, através de uma declaração pública, o que é ilegítimo. Os serviços de informação de um Estado, mesmo de um Estado como o português, que não tem o nível de ameaças que se vê em países como os EUA ou mesmo Espanha, são também o garante da Democracia e não podem ser postos em causa da forma irresponsável como se viu e ouviu nos últimos dias. Cavaco Silva não só não protegeu os serviços de informação como o SIS na ressaca dessas críticas e acusações, como acentuou as suspeitas. Então, sr. Presidente, os portugueses podem confiar nas ´secretas' portuguesas?





"[...] 3- Depois entregou-me um dossier sobre um Rui Paulo da Silva Figueiredo que é adjunto jurídico do PM, trabalha para o MAI, já passou pelos gabinetes de diversos ministro e, segundo o Fernando Lima, terá tentado entrar para o SIS mas chumbou. 4- Este tal Rui Paulo acompanhou a visita do PR, não se sabe como e e segundo o Lima “procurou observar”, o mais por dentro possível, os passos da visita do Presidente e o modo de funcionamento interno do satff presidencial”. Ao satff do PR terá percebido isso bastante cedo e redobrou os cuidados [...]"

" [...] Passada a época das tontarias, no Domingo passado o Provedor do Leitor do Público revelou que as alegadas escutas não se baseavam em qualquer "indício palpável", para além "de um indício, sim, mas de paranóia, oriunda do Palácio de Belém". Mais, todas as informações recolhidas pelo correspondente do jornal na Madeira que contradiziam a fonte de Belém haviam sido ostensivamente ignoradas aquando da publicação das notícias. Entretanto, ontem, o DN revelava um e-mail onde se dá conta do modo como, alegadamente, um assessor de Cavaco plantou a notícia [...]".

"[...] Uma história que os próprios jornalistas admitiam ter origem num estado de "paranóia", suspeita assente num guião de condimento sul-americano - faz-se luz numa viagem presidencial à Madeira, espiada de perto por um membro do gabinete do primeiro-ministro. É evidente que a história só poderia sair no "único jornal português que não está vendido ao poder". Ou seja, no Público. E a história acabou por fazer caminho. A pedido do Presidente? Não pode ser. Não pode, por muito que alguém que exerce funções de responsabilidade pública odeie alguém com quem está obrigado a relações institucionais.

Custa a crer, mas a pista está no e-mail: a alegada operação de Belém junto do Público data de Abril de 2008, há mais de um ano, num tempo em que Cavaco jurava fidelidade à "cooperação estratégica", quando, aparentemente, já estávamos num tempo de conspiração estratégica. Ontem, enquanto Sócrates agia dizendo que o Presidente está "acima da disputa eleitoral", Cavaco rejeitava "fazer comentários que possam ter conexões político-partidárias", acrescentando, contudo, a vontade: "depois das eleições não deixarei de obter informações sobre questões de segurança".

O Presidente acaba por alinhar com uma das partes - aquela que sustenta a tese da asfixia democrática. A questão que se põe é, pois, séria: qual será o relacionamento entre estes dois órgãos de soberania, caso Sócrates ganhe as eleições? Sendo que já não há cara para máscaras."


"O Diário de Notícias confirma hoje que a historia da "espionagem" do Governo sobre Belém foi forjada pelo assessor do Presidente da República Fernando Lima, que a "plantou" no Público, nao tendo havido a mínima confrimação factual da inverosímil história. O episódio revela um inaudito grau de paranóia política em Belém, que só pode comprometer Cavaco Silva, mesmo que não tenha fundamento a alegação de que a acusação foi feita a pedido do próprio Presidente.O Presidente só tem uma saída para varrer a sua testada: afastar imediatamente a conspirativa personagem. Quem tem assessores destes tem de se responsabilizar por eles."

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