13 de outubro de 2009

Sobre os problemas da comunicação social

Acabei por não ver os Prós e Contras de ontem, e tive pena.

A comunicação social tem tido, nos últimos tempos, em Portugal, um protagonismo que ela própria dispensaria, mas os problemas com que se confronta cá, são transversais a todas as democracias, e resultam de evoluções económicas, tecnológicas e políticas que não domina. Em primeiro lugar, a dependência da publicidade para a sua viabilidade económica. Depois, é tudo aquilo que se prende com a Internet e com o  impacto económico e concorrencial desta na sua actividade tradicional: ver, por exemplo, The Death of the Newspaper The Big Picture e Presse : le piège terrible de la gratuité Telos

A evolução política tem a ver com a evanescência dos partidos políticos (e sindicatos) enquanto órgãos de diálogo e formação da opinião pública, fazendo com que só fique ao dispor da classe política a comunicação social para a transmissão da sua mensagem, o que na ausência de outros canais de comunicação, torna dramaticamente premente para aquela que esse uso seja eficaz - o que daí resulta está à vista. Aquilo que Pacheco Pereira faz menção aqui  tem validade: onde descamba, e de todo, é no afunilar de tudo, razões e práticas, para a responsabilidade de um só partido.

A solução passaria pela revitalização da prática partidária - o que devemos esperar sentados - e pela consideração da informação de qualidade como um bem-público, cuja provisão não é adequada nas nossas sociedades - o mercado não consegue assegurar essa provisão em quantidade - e como tal devendo ser preocupação e tarefa do Estado. A peça da Telos acima e a investigação feita por economistas referida abaixo, defendem isso. Tal, vem a contrário do que defende a direita (caso do Pacheco Pereira, aqui) que recusa a regulamentação da actividade e preconiza a privatização de todos os órgãos de comunicação social estatais. Como é claro, nos detalhes é que está o diabo, e toda a questão de como evitar que a intervenção do Estado seja perversa - preocupação legítima e substantivada pela história - está "sub judice".

Aquilo que se diz aqui (ler todo a coluna): Reducing media bias through regulation vox - Research-based policy analysis and commentary from leading economists bate certo com o que se sabe:

"Is there a crisis in the media and journalism? This column alleges that advertising has seriously interfered with the quality, accuracy, and breadth of content and programming in the media. It calls for vigorous competition in media markets and public funding of informative media as a public good.

There is a crisis in media and journalism, and policymakers have to tackle both political and commercial influence in the media. Political bias has been thoroughly analysed in the economics literature, but commercial bias has received markedly less attention than it deserves. For decades, commercial interests delayed public awareness of tobacco health risks. The literature on tobacco and public health contains the most systematic evidence. Health risks went essentially unreported in the mainstream press for decades (Baker 1994;Bagdikian 2004).

Reporting on climate change and its causes suffered similar delays. More recently, some critics are suggesting that business interests (especially of insurance and pharmaceutical companies) are impeding an informed and balanced media debate on healthcare reform in the US. Others claim that a truly independent media could have helped to avert or mitigate the current financial and housing crises.

In a recent article, we show how advertising can seriously interfere with the quality, accuracy, and breadth of content and programming in the media (Ellman and Germano 2009). Biased content is most likely when competition amongst media outlets is limited or when advertisers are large and can threaten to withdraw their advertising business from the media. The analysis extends to media dependence on any business or state actors that can substantially affect media company profits. Analysing the delicate interaction between advertisers, financiers, media outlets, and media audiences within a two-sided markets framework generates new insights for policymakers. Our work points to the need for independent media and makes the case for promoting competition and public funding."


PS: Ler em The new rules of news Dan Gillmor Comment is free guardian.co.uk 22 maneiras para mudar o modo como as notícias são produzidas - é muito interessante.

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