5 de fevereiro de 2008

Correia de Campos (I)

A primeira vez (e única) que ouvi Correia de Campos, ao vivo, foi em Lisboa, ainda no tempo do Guterres, num qualquer colóquio (não me recordo qual), sobre um qualquer assunto (idem), com um qualquer ministro (idem). Correia de Campos era um dos intervenientes. Fez uma intervenção incisiva, frontal – questionando o ministro se não era isso (o que propunha) que devia ser feito – e o que disse (tinha a ver com o modo como a administração pública devia intervir naquele assunto) marcou-me pela qualidade. Ficou-me, na memória, a impressão sobre o estilo e a substância – muito contrastantes com o que é habitual na democracia portuguesa. Acompanhei com interesse a sua primeira (e curta) experiência governativa e, particularmente, esta que agora acaba.


Sobre a actuação de Correia de Campos, falam outros melhor do que eu.


O professor Paulo Kuteev Moreira, num artigo do Diário Económico, em Dezembro do ano passado, Expectativas para 2008, discutia o que se esperava da equipa de Correia de Campos, para 2008. A leitura é bastante sugestiva e instrutiva.


O professor Jorge Simões, no Expresso da Meia-Noite, de sexta-feira passada (não vi o programa na totalidade) assegura que a evolução anterior da despesa do SNS era insustentável (9% ao ano é, devemos convir todos, efectivamente, insustentável) e que Correia de Campos tinha sustido o descalabro.


Daniel Bessa agradece-lhe no Expresso desta semana e não poupa nos adjectivos: “luta titânica”; “caiu…em pleno combate”; e produz apontamentos de relevar. Vejamos: “…um conjunto de orientações que espero tenham ficado”; “…há na saúde uma componente de gestão, essencial, mais do que para poupar dinheiro, para assegurar a qualidade do serviço” – isto é tão óbvio, que deveria ser criticado de trivial, não fosse a iliteracia impante no domínio da gestão por parte de alguma classe política; diz coisas interessantes sobre a organização da saúde e, termina, de forma lapidar com “Caiu numa luta desigual contra os interesses e sobretudo contra o preconceito, autoproclamado humanista e vestido de esquerda” – não poderia estar mais de acordo.

(Continua)

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