5 de fevereiro de 2008

Correia de Campos (II)

Já tinha focado as questões de saúde (ver etiqueta saúde) e referi, nomeadamente, o artigo de Vital Moreira sobre o que se tenta fazer em Portugal (a ler, se não o fizeram). Aquilo que estava (está) a ser feito era-o (é-o), de modo indispensável, em defesa do SNS. Um SNS ineficiente abre o caminho para a sua implosão, ou, se quiserem, a diminuição significativa do perímetro da sua actuação – a quem isso interessa? Um SNS ineficiente – Daniel Bessa afirma-o – não fornece um serviço de qualidade.
A defesa intransigente do SNS, por parte da esquerda, obrigaria que esta atacasse de modo implacável: as más práticas, os abusos, os interesses instalados, a desorganização, a má utilização dos recursos, a redundância, etc. – não devendo haver apriorismos ideológicos quanto às soluções e quantos aos instrumentos (um hospital público obtém um recorde de transplantes – o mecanismo que o explica, segundo parece, é um prémio à produção; a Ordem de Médicos é contra: porquê? Têm medo de que se criem novos padrões de comparação para todos os outros?).
E para conseguir isto os números são fundamentais; não há gestão sem quantificação - a-propósito, o que se passa, neste particular, no SNS - é só no SNS? - brada aos céus, e explica muita coisa – vejam o que se diz, neste artigo de Paulo Kuteev Moreira, Um sistema de desinformação, sobre o modo como são apurados os números do SNS.


O objectivo da eficiência do SNS foi prosseguido por Correia de Campos, de modo corajoso, coerente e sistemático, em nome da sua sustentabilidade, da sua defesa e da qualidade dos serviços prestados. Não correu tudo bem. Não percebi, confesso, como fechavam urgências sem se acautelar serviços de substituição – era mau para as populações e era mau em termos da condução política do processo. Quanto à comunicação e às explicações, foram aquelas que a democracia nos habituou – o que acontece é que a sua ausência passa a ser dramática (para todos, políticos, governantes e cidadãos) quando se tem de alterar, a sério, as coisas. Cometeu erros de táctica política? Admito-o. Tudo visto, merece todo o meu respeito enquanto governante e homem de esquerda.


O PM fez bem em substitui-lo face à sua deriva recente em termos de presença política? Vamos admiti-lo. O que não será admissível é que as reformas em curso sejam paradas – quanto muito, deverão ser melhor sincronizadas na concretização dos seus diferentes elementos.
Não gostei de saber que a Ministra da Saúde – antes de o ser – tenha afirmado que os números não podem ser o único critério. O que é que isto quer dizer? Quais os números a que se refere – o orçamento da saúde em percentagem do PIB? O que se gasta bem e o que se gasta mal?O número de operações? O número das listas de espera? Etc., etc. Estava a falar para a sua plateia, usando a velha tecla do "economicismo"? Tomada pelo seu valor facial, a afirmação é um mero truísmo mas, pode ser lida, de outras formas e pode, no limite, implicar outras coisas – esperemos que não.
PS(08.02.11): A história dos incentivos tem mais que se lhe diga do que percebi na tv. Em todo o caso, os incentivos, devidamente delineados, podem (e devem) ser utilizados para obter ganhos de produtividade no SNS.
PS(08.02.21): Paulo Kuteev Moreira no Diário Económico, Incentivos na Saúde? discute a questão dos incentivos.

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