Ao reler, há bocado, a nota que coloquei de um artigo notável sobre o sistema de saúde dos EUA (ver aqui), e da importância da estatística em tê-lo viabilizado, lembrei-me de um outro, de Pedro Magalhães, Outro Planeta - Margens de Erro, que concorre com tudo o que é dito naquela outra nota:
"Passei esta semana em Braga, na Universidade do Minho, num Curso de Verão organizado pelo Núcleo de Investigação em Politicas Económicas, onde trabalha o meu amigo LA-C. O curso foi leccionado por Joshua Angrist, do MIT, um economista americano muito conhecido que falou sobre um conjunto de técnicas econométricas destinadas a estimar rigorosamente efeitos causais recorrendo a dados observacionais ou a corrigir problemas ocorridos em estudos experimentais onde, apesar da aleatorização dos sujeitos, não se consegue evitar que os grupos de controlo e de tratamento se seleccionem, em parte, a si próprios. Parte significativa da matemática utilizada para provar teoremas, confesso, passou-me por cima. Mas as técnicas e a sua aplicação não são especialmente complicadas e a coisa toda foi muito bem feita, bem organizada e muito estimulante.
Se falo nisto é apenas para assinalar que muitos dos trabalhos de Angrist têm como objectivo estimar as consequências de variações institucionais e de intervenções concretas nas politicas públicas. Que tipos de escolas produzem melhores resultados nos exames dos alunos? Qual o efeito da dimensão das turmas? Vale a pena avaliar os professores, e como? Que impacto têm as políticas laborais activas? Quais os efeitos do serviço militar obrigatório nos rendimentos futuros dos recrutados? E do prolongamento da escolaridade obrigatória? Etc, etc, etc. Aquilo que mais me impressionou no contacto com esta bibliografia é a compreensão da distância abissal entre a natureza do debate sobre as politicas públicas em Portugal e nos EUA. Nos EUA, a preocupação com medir os efeitos das políticas vai ao ponto dos organismos organizarem frequentemente experiências [...]" Pedro Magalhães conclui que em Portugal, estamos noutro planeta.
"Passei esta semana em Braga, na Universidade do Minho, num Curso de Verão organizado pelo Núcleo de Investigação em Politicas Económicas, onde trabalha o meu amigo LA-C. O curso foi leccionado por Joshua Angrist, do MIT, um economista americano muito conhecido que falou sobre um conjunto de técnicas econométricas destinadas a estimar rigorosamente efeitos causais recorrendo a dados observacionais ou a corrigir problemas ocorridos em estudos experimentais onde, apesar da aleatorização dos sujeitos, não se consegue evitar que os grupos de controlo e de tratamento se seleccionem, em parte, a si próprios. Parte significativa da matemática utilizada para provar teoremas, confesso, passou-me por cima. Mas as técnicas e a sua aplicação não são especialmente complicadas e a coisa toda foi muito bem feita, bem organizada e muito estimulante.
Se falo nisto é apenas para assinalar que muitos dos trabalhos de Angrist têm como objectivo estimar as consequências de variações institucionais e de intervenções concretas nas politicas públicas. Que tipos de escolas produzem melhores resultados nos exames dos alunos? Qual o efeito da dimensão das turmas? Vale a pena avaliar os professores, e como? Que impacto têm as políticas laborais activas? Quais os efeitos do serviço militar obrigatório nos rendimentos futuros dos recrutados? E do prolongamento da escolaridade obrigatória? Etc, etc, etc. Aquilo que mais me impressionou no contacto com esta bibliografia é a compreensão da distância abissal entre a natureza do debate sobre as politicas públicas em Portugal e nos EUA. Nos EUA, a preocupação com medir os efeitos das políticas vai ao ponto dos organismos organizarem frequentemente experiências [...]" Pedro Magalhães conclui que em Portugal, estamos noutro planeta.
Uma nota "en passant": a qualidade do trabalho dos economistas, nomeadamente, a nível macroeconómico, depende da qualidade e quantidade da informação estatística - a sua ausência, funciona, aliás, como desincentivo ao trabalho nessa área de investigação.
Nota à nota "en passant": O reparo só é relevante, se os responsáveis considerarem que a análise macroeconómica traz alguma coisa. Mas é possível ter responsáveis políticos a considerar isso? É. Tal dependerá da sua sensibilidade, da sua cultura geral, do seu nível de literacia económica, do conhecimento efectivo que têm da realidade onde estão inseridos, e por fim, mas decisivo, do nível da sua "aisance" orçamental, e do peso per capita dos recursos financeiros que comandarem - tudo o resto igual, quanto maior for aquele peso, maior o desinteresse, no curto prazo, quanto à macroeconomia [no longo prazo, estaremos todos mortos, e essa verdade, é particularmente, querida dos responsáveis políticos, por boas razões, mas, principalmente, por muito más razões]. No curto prazo, só se preocupam com a macroeconomia, se houver crise, e mesmo assim, não é garantido.
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