16 de julho de 2009

De novo a quantificação

Ao reler, há bocado, a nota que coloquei de um artigo notável sobre o sistema de saúde dos EUA (ver aqui), e da importância da estatística em tê-lo viabilizado, lembrei-me de um outro, de Pedro Magalhães, Outro Planeta - Margens de Erro, que concorre com tudo o que é dito naquela outra nota:

"Passei esta semana em Braga, na Universidade do Minho, num Curso de Verão organizado pelo Núcleo de Investigação em Politicas Económicas, onde trabalha o meu amigo LA-C. O curso foi leccionado por Joshua Angrist, do MIT, um economista americano muito conhecido que falou sobre um conjunto de técnicas econométricas destinadas a estimar rigorosamente efeitos causais recorrendo a dados observacionais ou a corrigir problemas ocorridos em estudos experimentais onde, apesar da aleatorização dos sujeitos, não se consegue evitar que os grupos de controlo e de tratamento se seleccionem, em parte, a si próprios. Parte significativa da matemática utilizada para provar teoremas, confesso, passou-me por cima. Mas as técnicas e a sua aplicação não são especialmente complicadas e a coisa toda foi muito bem feita, bem organizada e muito estimulante.


Se falo nisto é apenas para assinalar que muitos dos trabalhos de Angrist têm como objectivo estimar as consequências de variações institucionais e de intervenções concretas nas politicas públicas. Que tipos de escolas produzem melhores resultados nos exames dos alunos? Qual o efeito da dimensão das turmas? Vale a pena avaliar os professores, e como? Que impacto têm as políticas laborais activas? Quais os efeitos do serviço militar obrigatório nos rendimentos futuros dos recrutados? E do prolongamento da escolaridade obrigatória? Etc, etc, etc. Aquilo que mais me impressionou no contacto com esta bibliografia é a compreensão da distância abissal entre a natureza do debate sobre as politicas públicas em Portugal e nos EUA. Nos EUA, a preocupação com medir os efeitos das políticas vai ao ponto dos organismos organizarem frequentemente experiências [...]"
Pedro Magalhães conclui que em Portugal, estamos noutro planeta.
Uma nota "en passant":
a qualidade do trabalho dos economistas, nomeadamente, a nível macroeconómico, depende da qualidade e quantidade da informação estatística - a sua ausência, funciona, aliás, como desincentivo ao trabalho nessa área de investigação.
Nota à nota "en passant":
O reparo só é relevante, se os responsáveis considerarem que a análise macroeconómica traz alguma coisa. Mas é possível ter responsáveis políticos a considerar isso? É. Tal dependerá da sua sensibilidade, da sua cultura geral, do seu nível de literacia económica, do conhecimento efectivo que têm da realidade onde estão inseridos, e por fim, mas decisivo, do nível da sua "aisance" orçamental, e do peso per capita dos recursos financeiros que comandarem - tudo o resto igual, quanto maior for aquele peso, maior o desinteresse, no curto prazo, quanto à macroeconomia [no longo prazo, estaremos todos mortos, e essa verdade, é particularmente, querida dos responsáveis políticos, por boas razões, mas, principalmente, por muito más razões]. No curto prazo, só se preocupam com a macroeconomia, se houver crise, e mesmo assim, não é garantido.

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