12 de fevereiro de 2011

Cancro nos Açores

Ouvi, ontem, no Expresso da Meia-Noite, que o Expresso publicado hoje, mas que, aqui, nos Açores, só teremos acesso amanhã, referia a situação do cancro nos Açores. Não sei, portanto, o conteúdo da notícia.  Poderá estar ligada ao estudo do Professor Manuel Coelho e Silva sobre a evolução da expectativa de vida  dos portugueses baseada num sub-conjunto da população escolar dos Açores. 

Mas se referir só o cancro nos Açores, a notícia peca por ser redutora e mal informada. O problema é que nos Açores, relativamente ao Continente, e menos em relação à Madeira, a  taxa de mortalidade - medida pela taxa de mortalidade normalizada - não só quanto ao cancro, mas em relação às doenças mais graves, é significativamente maior. Isso é sabido desde 2005 na base de informação estatística dada pelo INE. Que o assunto leve  6 a 7 anos a aflorar na opinião pública, através da comunicação social continental,  sem que a nível político regional, do governo e oposição,  tenha merecido a devida atenção, discussão e projecção pública, é absolutamente estarrecedor - se as pessoas estão a morrer cá mais do que lá,  em termos  relativos, isso significa que há causas locais, necessariamente, ao nível de comportamento de cada um dos cidadãos, que importa estudar, denunciar, alertar e prevenir, mais, e com mais eficácia do que tem sido feito: o não o fazer releva da negligência criminosa. Obviamente, que o problema não radica no Sistema Regional de Saúde (SRS),  e dos seus profissionais, que nada devem em termos de qualidade e de proficiência aos seus congéneres continentais - o problema está noutro lado.

Não que todos tenham estado distraídos. O autor do blogue Canibais e Reis já me tinha alertado  para o assunto e tinha-me solicitado apoio na obtenção de informação que permitisse perceber e contextualizar a diferença entre os Açores e o Continente - (como seria de esperar, essa informação não abunda)- o meu filho antes, também me tinha referido que os números quanto ao cancro nos Açores eram alarmantes. Referi o assunto aqui. No entretanto, ainda há pouco do tempo, esse blogue abordou o assunto:


[Quanto aos Açores] "....há uns factos pouco conhecidos que talvez se possam explorar. Por exemplo, nas estatísticas de 2005, a mortalidade nos Açores/Madeira (cerca de 900 a 960 mortes/100.000hab/ano) era muitíssimo superior à média do Continente (665 mortes/100.000hab/ano). Repare que é uma diferença enormíssima, quase na casa dos 30%.....

E porquê os Açores têm dobro de mortalidade cardiovascular e muito mais pneumonia/infecções? ....

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Visitem o blogue para ler a nota na totalidade. Voltarei ao assunto. Como devem ter reparado a questão é política; é de saúde pública; é, pois, do nível que se tem de sensibilidade social; é, deixem-me brincar com coisas sérias, economicista (vejam o défice do SRS); e é, também, de como uma região, que é autónoma, se conhece, se conhece a si própria, ou, enfim, não se conhece: mas, se não se conhece, como pode ser governada bem?

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