Isto não esgota a conversa: não é toda a história, mas é uma parte que não pode ser esquecida e que tem de ser integrada em qualquer narrativa em que se aposte como a mais correcta. Um dos problemas com que nos debatemos não é a diversidade das narrativas em presença: é a desonestidade intelectual... que faz com que se esqueçam, por exemplo, os exercícios aritméticos simples do Medina Carreira, e outras coisas quejandas, nalgumas narrativas, e noutras, se esqueçam outro tipo de exercícios aritméticos simples, sempre de modo a afeiçoar a narrativa aos interesses partidários, ideológicos, etc. de curto prazo. Querem um exemplo? É o caso do crescimento versus austeridade. Não é esse o dilema que tem de ser resolvido: aquele que tem de ser resolvido, é de como crescer sem agravar no curto e/ou médio prazo os problemas que, em primeiro lugar, nos colocaram neste sarilho: endividamento público e endividamento externo. Ora, isso é difícil como o caraças, donde toda a nossa gente discursa, improvisa, joga no ad-hoc (alegremente?) porque - é a mesma reserva mental que está lá, detrás do teatro de sombras que tudo isto é - ao fim do dia, como contava Correia de Campos do que dizia um responsável da saúde, que não conheceu a tempo de o despedir, gasta-se, porque alguém há de pagar .
A nota abaixo deve ser lida na totalidade
várias das posições sobre os programas de austeridade em Portugal têm defendido uma flexibilidade no processo, e culpabilizando Angela Merkel pela falta de compreensão com os povos do Sul da Europa, falando em maior solidariedade e em necessidade da Alemanha (e países próximos) pagarem um programa de crescimento europeu, seja via os agora famosos eurobonds via directa pelo orçamento comunitário.
O artigo de Han-Werner Sinn publicado ontem no Jornal de Negócios deve-nos porém fazer pensar que o problema não está em Angela Merkel, ela própria limitada pela opinião pública alemã, muito influenciada pelas posições deste economista (e doutros que com ele alinham). Escreve Sinn “Muitos solucionariam o problema concedendo crédito cada vez mais barato, através de canais públicos – fundos de resgate, eurobonds ou BCE – provenientes do núcleo estável da Zona Euro e direccionados para um Sul em dificuldades. Mas isso obrigaria, injustamente, os aforradores e contribuintes dos países desse núcleo a fornecerem capital ao Sul sob condições que nunca aceitariam voluntariamente. [....]