Jacques Julliard, do Nouvel Observateur, fala-nos do bom uso a dar ao relatório Attali. O relatório Attali discute e propõe um leque extenso de medidas destinadas a desbloquear o crescimento económico francês. Foi pedido por Sarkosy que promete cumpri-lo à risca - as medidas propostas são curiosas (a primeira é a de melhorar a formação dos educadores de infância) embora do grupo que vi - são trezentas e dezasseis medidas - muitas são específicas à situação sócio-política e económica francesa.
- Jacques Julliard diz coisas que são susceptíveis de serem tema de reflexão para outros contextos: " D'évidence, le rapport est d'inspiration libérale mais c'était sans doute inévitable. Il y avait peu de chances que, pour «libérer h croissance», on emmaillotât encore un peu plus les acteurs. «Libéral» ne s'oppose pas ici à «social», voire à socialisme, mais à dirigiste et même étatique." Isto cruza com aquilo que João Cardoso Rosas diz (referido numa nota deste blogue).
- Mas o que se segue, se serve de reflexão para o caso português, deve sê-lo com algum cuidado : "La conviction des membres de la commission, toutes opinions confondues, est en effet que la conception d'une société réglementée, qui continue de prévaloir en France, la rend incapable d'affronter les défis de la mondialisation et explique en grande partie son déclin, au moins relatif, dont aucun en vérité ne doutait." Em Portugal, grande parte da regulamentação (que é excessiva, do estrito ponto de vista legislativo: - o número de instrumentos legais a que está sujeita a actividade dos restaurantes, de acordo com a informação transmitida pelo presidente da associação empresarial do sector, no programa Expresso da Meia-noite, da SIC, é absurdo) não é uma restrição activa - existe na lei mas não é aplicada. Temos o pior dos mundos em termos de regulamentação: temos má regulamentação, e a boa não é relevada, e a nossa gente (todos), vive bem com isso. Quando a regulamentação (a má, a menos má, a razoável e a boa) é aplicada (porque é lei, e a lei é para cumprir - evidêncial trivial que não é trivial em Portugal), cai o Carmo e a Trindade - veja-se o caso das reacções à actuação da ASAE.
- Outra frase: "Alors que, dans toute la société, la notation règne en permanence, pour le médecin, le commerçant, l'artiste, le sportif, et maintenant le ministre, tous confrontés de facto aux performances de leurs concurrents, il est anormal que le fonctionnaire, supposé incarnation parfaite de l'Etat hégélien, échappe, à toute comparaison, à toute remise en cause." De novo, em Portugal, o problema não é, não haver avaliação - é o modo como é feita (o que por sua vez indicia problemas mais profundos e mais sérios).
- Ainda, mais outra: "Reste le fond du diagnostic : la France va mal et, dans tous les domaines, elle a besoin de remèdes de cheval. Soit. Mais il va falloir en convaincre les Français, et d'abord Nicolas Sarkozy lui-même qui, dès son arrivée en fonction, a tourné le dos à cette façon de voir. Au lieu du discours churchillien qui s'imposait, il a commencé à distribuer de l'argent à ceux qui n'en avaient pas besoin et s'est assis sur sa promesse de réduire la dette." Gosto muito da expressão: discurso churchiliano - a-propósito veja-se o que se diz na nota anterior sobre a importância da liderança política.
- E, finalmente, (gosto mesmo do conteúdo desta frase): "On le voit mal, dans ces conditions, épouser la logique d'un rapport fondé sur le pessimisme de l'analyse et l'optimisme de la volonté." Pessimismo da análise e optimismo da vontade - excelente.
PS(1): Ver também no Nouvel Observateur, por Claude Weill, uma crónica
onde se fala de Ségolène Royal e do que esta diz sobre o tema da esquerda versus
desigualdade e justiça social e de outras coisas. Descobri, agora (08.01.31), na Causa
nossa, uma referência à reacção da esquerda francesa ao Relatório Attali
(excepção feita da Ségolène Royal). (08.02.01) Luís Silva Morais, no Diário
Económico, faz referência ao Relatório Attali e faz a ligação a Portugal.
PS(2): Mais uma frase do Nouvel Observateur, duma entrevista
ao sociólogo Jean-Pierre Le Goff sobre a sociedade francesa : "Quand la
société ne trouve plus à s'insérer dans une histoire collective et un ordre
institutionnel stable, les individus sont autocentrés et les rapports
sociaux sont dominés par les affects et les sentiments."
PS (3): Para eu ficar comprometido comigo mesmo: tenho de
escrever sobre
a ASAE e sobre o Tratado de Lisboa (e queria falar de Correia de
Campos). A
irritação que sentia (e que sinto) com o processo ASAE, foi um dos
motivos
que me levaram a ter um blogue - para ventilar as minhas perplexidades e
irritações de cidadão.
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